sábado, 18 de outubro de 2025

VAGAS ESTRELAS DA URSA

Título Original: Vaghe stelle dell'Orsa...
Diretor: Luchino Visconti
Ano: 1965
País de Origem: Itália
Duração: 96min
Nota: 9

Sinopse: Sandra retorna à cidade de sua infância para lidar com problemas familiares, mas memórias e segredos do passado a dominam.
 
Comentário: Vencedor do Leão de Ouro e de outro prêmio fora da competição principal no Festival de Veneza. Assisti na semana da morte da atriz Claudia Cardinale, que foi uma das maiores, aqui talvez em um de seus papéis mais complexos. Luchino faz um filme mais fechado em um ambiente claustrofóbico, diferente de filmagens mais amplas como em O Leopardo e isto dá o tom certo para a história que está contando. Uma espécie de Shakespeare misturado com a tragédia grega com relações caóticas surgindo em tela. Um Visconti diferente do habitual e que funciona muito bem, até melhor eu diria, do que o usual. As filmagem em branco e preto, que o diretor não fazia há anos, também ajudou a dar o tom preciso da película. Um filme difícil em certos aspectos, chocante e subversivo em outros, muito a frente de seu tempo. Uma curiosidade é que Claudia Cardinale era nascida na Tunísia, portanto sua língua mãe era o francês, precisava ser dublada em italiano, neste filme ela conseguiu usar sua própria voz depois de sempre brigar por isso (consiguiu anteriormente em 8½) e tendo o apoio do diretor.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

GANGA BRUTA

Título Original: Ganga Bruta
Diretor: Humberto Mauro
Ano: 1933
País de Origem: Brasil
Duração: 78min
Nota: 7

Sinopse: Um homem mata sua esposa na noite de núpcias, após descobrir que ela havia sido infiel. Após ser absolvido, ele se muda para o campo, onde se apaixona por uma garota inocente.
 
Comentário: Entendo, talvez, a importância deste filme para o Cinema Novo em sua narrativa. Há sim cenas interessantíssimas criadas por Humberto Mauro, como a cena inicial do casamento que se transforma em um funeral. Toda a construção do filme está à frente de seu tempo, mas não há como negar que em vários outros aspectos ele envelheceu mal também. O personagem principal é tosco, difícil até de aturar em tela. Gostei das canções que dão um tom de Brasil ao filme, que era marca importante nesta época que o Brasil começou a produzir filmes sonoros uns anos antes. Não gostei muito do final, há uma glorificação da violência masculina que está enraizada na nossa sociedade, lógico que o filme é de uma sociedade de quase 100 anos atrás, difícil ver com os olhos de hoje.

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

DESENCANTO

Título Original: Brief Encounter
Diretor: David Lean
Ano: 1945
País de Origem: Inglaterra
Duração: 86min
Nota: 9

Sinopse: A mãe e dona de casa Laura Jesson conhece Alec Harvey em um café de uma estação ferroviária e logo surge uma atração.
 
Comentário: Vencedor do Grande Prêmio do Festival no Festival de Cannes, em uma época que não existia ainda a Palma de Ouro e vários filmes recebiam o prêmio. Um filme extremamente corajoso, de uma sensibilidade muito acima da média e com um belo desfecho. O machismo da época era tão impregnado que dizem que o ator Trevor Howard não conseguia entender seu personagem e teve dificuldades para incorporar o papel. O filme é baseado em uma peça de Noël Coward (Still Life) que se passava praticamente toda na estação de trem. Lean ampliou a história e cortou a cena do último encontro entre o casal que chegou a ser filmada, mas achou que terminava melhor como ficou sendo aprovado pelo autor da peça depois. A cena em que a mulher chata entra e não para de falar é a representação perfeita da sociedade metendo o bedelho em tudo, que funciona muito bem hoje em tempos de Instagram. O filme, lançado do final da Segunda Guerra representa bem o sentimento da época, de vidas interrompidas e não vividas. David Lean em toda a sua melhor forma.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

AS BONECAS DA MORTE

Título Original: The Psychopath
Diretor: Freddie Francis
Ano: 1966
País de Origem: Inglaterra
Duração: min
Nota: 7

Sinopse: Quatro homens que estavam envolvidos na investigação de um milionário alemão no final da Segunda Guerra Mundial são encontrados assassinados com pequenas bonecas deixadas ao lado de seus corpos.
 
Comentário: Freddie Francis foi gigante, quanto a isso não há discussão, seu trabalho como diretor de fotografia de filmes com diretores como David Lynch e Martin Scorsese o consagraram muito bem. Nessa época ele dirigia filmes com orçamentos limitados na Inglaterra, mas já havia feito o clássico O Terror Veio do Espaço que havia feito considerável sucesso de bilheteria, mas não de crítica. Este é um filme muito menor, que o poster estraga toda a graça de descobrir quem é o assassino. Detalhes que a produtora Amicus parece não ter dado bola. O filme também é roteirizado por Robert Bloch, o autor de Psicose. Ele diverte, há um cuidado com a fotografia, mas em linhas gerais é mais para passar o tempo para quem gosta deste tipo de produção inglesa como eu.

domingo, 14 de setembro de 2025

HIROSHIMA MEU AMOR

Título Original: Hiroshima Mon Amour
Diretor: Alain Resnais
Ano: 1959
País de Origem: França
Duração: 90min
Nota: 9

Sinopse: Uma atriz francesa que está rodando um filme contra a guerra em Hiroshima tem um caso com um arquiteto japonês casado, enquanto compartilham suas diferentes perspectivas sobre a guerra.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro e vencedor do prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes. Resnais faz aqui um enorme manifesto contra a guerra, onde um soldado alemão apaixonado pode ser a vítima, onde os mocinhos que dizimaram civis com bombas atômicas não são tão mocinhos assim. É um filme corajoso demais para a época, onde escancara que nem todo esqueleto no armário foi devidamente enterrado depois de 45, mas a maneira que ele conta essa história é de uma sutileza ímpar, que nunca havia sido feito antes e nunca foi feito depois. Emmanuelle Riva controla o espectador em cada movimento, em cada fala, em cada detalhe. Eiji Okada é um mero espectador como nós.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

A MULHER MORCEGO

Título Original: La Mujer Murciélago
Diretor: René Cardona
Ano: 1968
País de Origem: México
Duração: 79min
Nota: 7

Sinopse: Um cientista louco está capturando lutadores para retirar-lhes a glândula pineal para que possa criar um homem-peixe. Para descobrir por quem os lutadores estão sendo mortos, Batwoman se infiltra no mundo da Luta Livre.
 
Comentário: Que filme divertido! Galera que tenta assistir este filme levando a sério realmente não vai curtir nunca. O clima sessentista e o figurino são um show à parte (a atriz tinha alguns minutos para filmar antes que a roupa estragasse por lassear demais) e falando na atriz: Maura Monti está deslumbrante, de arrebatar o coração de qualquer um. Há momentos que fica óbvio que a falta de financiamento afeta o filme (como na perseguição de carro, fiquei esperando gadgets como em um filme do 007 que não vieram), mas o Monstro-Peixe e o cientista louco toscos e caricatos ficaram ótimos no geral. Um filme que devia ter tido outras continuações, fazia tempo que não via um filme-b antigo que me divertisse tanto.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A BESTA HUMANA

Título Original: La Bête Humaine
Diretor: Jean Renoir
Ano: 1938
País de Origem: França
Duração: 100min
Nota: 8

Sinopse: Nesta adaptação clássica do romance de Émile Zola, um maquinista torturado se apaixona por uma mulher casada e problemática que ajudou o marido a cometer um assassinato.
 
Comentário: Indicado ao prêmio principal no Festival de Veneza (que naquela época não chamava Leão de Ouro, mas levava o nome do ditador fascista que comandava a Itália). Renoir é um cara que sabe o que está fazendo, a condução e a fotografia do filme são excelentes. A química entre Gabin e Simon é grande parte do que faz o filme acontecer e funcionar muito bem. As coisas começam de maneira lenta e vai acelerando em um ritmo caótico para o final.  Aqueles amores doentios que afundam a gente, mas que a gente cria uma dependência como um vício em droga, retratado da maneira mais crua e realista possível.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

NÃO LAMENTO MINHA JUVENTUDE

Título Original: Waga Seishun ni Kuinashi
Diretor: Akira Kurosawa
Ano: 1946
País de Origem: Japão
Duração: 110min
Nota: 9

Sinopse: A filha de um professor universitário politicamente desonrado luta para encontrar um lugar para si no amor e na vida, no mundo incerto do Japão, antes da Segunda Guerra Mundial.
 
Comentário: Que filmaço! Um Kurosawa que nunca tinha ouvido falar e que surpresa incrível ver que o mestre já era tudo aquilo desde o começo da carreira. Pensar que foi lançado já no ano seguinte da explosão das bombas atômicas no Japão, vemos aqui que o país reconstruiu muito rapidamente seu cinema diferente da Alemanha. A história é contagiante, os personagens envolventes e a crítica política do diretor é certeira. Podemos ver como a velha e boa "perseguição aos esquerdistas" consegue levar uma nação inteira direto para o precipício, me espanta que os povos do mundo ainda caiam nessa ladainha depois de tudo que já vimos no passado. Setsuko Hara, a protagonista, dá uma aula incrível e leva o filme todo nas costas fácil. Recomendadíssimo!

quarta-feira, 30 de julho de 2025

SINDICATO DE LADRÕES

Título Original: On The Waterfront
Diretor: Elia Kazan
Ano: 1954
País de Origem: EUA
Duração: 108min
Nota: 10

Sinopse: Um ex-pugilista de Nova Jersey, agora um operário portuário, luta para enfrentar seus chefes sindicais corruptos, incluindo seu irmão mais velho, enquanto começa a se conectar com a irmã de uma das vítimas do sindicato.
 
Comentário: Vencedor do Leão de Ouro e de mais dois outros prêmios fora da competição no Festival de Veneza e ainda faturou oito Oscars, incluindo diretor e ator. Fazia muitos anos que havia visto, não me recordava tão bem. Marlon Brando dá um show, a cena em que conversa com seu irmão no carro é das maiores da história do cinema. O filme não deixa de ser atual, as críticas e situações podem ocorrer facilmente nos dias atuais (dito isso espero que nunca façam um remake, porque é moda em Hollywood agora que não possuem mais ideias originais). A fotografia é perfeita e a direção do Kazan é meticulosamente precisa (ele podia ser um imbecil, mas foi um grande diretor). O final é emblemático. Foi ótimo conferir de novo.

sábado, 26 de julho de 2025

A TRAPAÇA

Título Original: Il Bidone
Diretor: Federico Fellini
Ano: 1955
País de Origem: Itália
Duração: 112min
Nota: 9

Sinopse: Augusto, um velho vigarista, trabalha com dois homens mais jovens: Roberto, que deseja se tornar o Johnny Ray italiano, e Carlo, apelidado de Picasso. Após uma série de contratempos e complicações pessoais, as coisas começam a piorar para ele.
 
Comentário: Indicado para o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Talvez seja um dos filmes mais pessimistas que eu tenha assistido (Fellini é mestre nisso, né?), o personagem principal consegue ser das coisas mais abomináveis da sociedade, mas porém é assustador pensar que se tornou tão, mas tão comum nos dias de hoje. Augustos nos cercam por todos os lados na política, em igrejas e coachs de Instagram dispostos a tudo para ganhar seu primeiro milhão. Augustos se proliferaram assustadoramente 70 anos depois desta obra prima e isto é triste demais. Um filme obrigatório, que deve fazer com que pessoas acordem para o que nos cerca no mundo de hoje. Assustador quando o ator Broderick Crawford diz que tem 48 anos no filme e eu pensei (hahahaha, capaz que ele tem só 48 anos) e depois fui checar e ele tinha 44, mais novo que eu hoje. Chocado!