segunda-feira, 1 de abril de 2024

3 LP'S AMERICANOS

Título Original: 3 Amerikanische LP's
Diretor: Wim Wenders
Ano: 1969
País de Origem: Alemanha
Duração: 13min

Sinopse:Existem certas músicas que evocam imagens que são mais visuais do que a maioria dos filmes hoje em dia. Aqui, Wenders combina cenas filmadas na Alemanha dentro de um carro com música que inspira paisagens americanas. Enquanto isso, Wenders e Peter Handke discutem música americana.
 
Comentário: Apesar do meu desprezo e nojo por Peter Handke, meu amor pelo Wim Wenders é maior e fui assistir este curta metragem que não conhecia. Interessante como a obra do diretor tem uma ligação tão forte com a música. Fiz um deep listening nos álbuns depois de ver o filme. Adoro o álbum Astral Weeks do Van Morrison, dos três é de longe o que mais escutei na vida, mas achei estranho escolherem um músico irlandês para falar de música americana, não considero o Transa do Caetano Veloso um álbum britânico assim como não considero o Heroes do Bowie um álbum alemão, pensando nessa pegada mais folk, o próprio Bob Dylan já tinha lançado o Nashvile Skyline e encaixava melhor já que o assunto era álbuns americanos. Creedence Clearwater Revival era uma banda que ouvia bastante na época da faculdade, rock bem clássico, não me lembro de ter ouvido este álbum em específico, eu tinha uma coletânea e ouvi mais o Cosmo's Factory de 1970. Cristo Redentor, o álbum de estreia do Harvey Mandel era completamente desconhecido para mim, gostei bastante e me remeteu bastante a obra de Ry Cooder, tão amalgamado na própria obra de Wenders. Vale a assistida.


quinta-feira, 28 de março de 2024

ERA UMA VEZ UM PAI

Título Original: Chichi Ariki
Diretor: Yasujirô Ozu
Ano: 1942
País de Origem: Japão
Duração: 87min

Sinopse: Shuhei Horikawa, professor viúvo, luta para criar sozinho seu filho Ryohei sozinho, sem dinheiro nem perspectivas de futuro espera que seu filho conquiste uma vida melhor que a dele.

Comentário: Que baita filme do Ozu, fazia tanto tempo que não assistia algo do diretor. O filme emociona demais em seu desfecho aumentando em muito a nota dele. Impressionante como o diretor consegue dinamismo em seus filmes sem movimentar a câmera nenhuma vez. Os atores são uma simpatia à parte. Interessante notar que o filme foi feito na época em que o Japão estava lutando durante a 2ª Guerra Mundial, e é possível notar pelo discurso do pai aquilo que era tentado passar para a população como "Deem o seu melhor que tudo vai dar certo" ou "Estamos em dificuldade agora, mas as coisas irão melhorar no futuro", muitos detalhes do filme remetem a guerra em curso nas entrelinhas. O respeito cultural que eles tem pela figura do professor era algo que o mundo ocidental deveria ter copiado há muito tempo.


segunda-feira, 11 de março de 2024

AS PEQUENAS MARGARIDAS

Título Original: Sedmikrásky
Diretor: Vera Chytilová
Ano: 1966
País de Origem: Checoslováquia
Duração: 73min

Sinopse: Utilizando-se de avançados efeitos especiais para a época, Vera Chytilová dirigiu esta obra surrealista que conta a história de duas garotas chamadas Marie, que decidem se adequar ao mundo como ele está: sendo depravadas. Portanto, ambas partem para uma série de encontros forjados e travessuras, desconstruindo o mundo ao seu redor.
 
Comentário: O filme não funcionou muito bem comigo, não achei muito legal de assistir, porém não tem como ignorar toda a força do discurso para a época contra o patriarcado, ao regime stalinista e o conservadorismo. Acho que se as protagonistas não fossem tão infantilizadas poderiam render mais diálogos interessantes. A parte técnica é o que a película tem de melhor, é um show para os olhos. Não acho o melhor filme da Chytilová que já assisti. Agradeço a dedicatória, pois acho que de que adianta se revoltar com a guerra e não dar a mínima para o desperdício de comida em um mundo onde a fome é uma realidade tão brutal em alguns lugares quanto a guerra? É um bom filme, que acabei dando uma nota a mais pela ousadia contra a mentalidade da época.


quinta-feira, 7 de março de 2024

UMA CRIANÇA TRAVESSA

Título Original:Zly Chlopiec
Diretor: Andrzej Wajda
Ano: 1951
País de Origem: Polônia
Duração: 6min

Sinopse: Primeiro curta-metragem de Wajda, baseado em uma história Anton Chekhov. Amor, humor, um menino e um jovem casal. Uma carta. Nada mais, em essência.

Comentário: Uma história curta e simples, não da para ter a mínima ideia de que o diretor se tornaria a lenda que foi. Baseado no conto O Menino Malvado, que é uma história bem curta de Chekov, ainda prefiro ler o original do que assistir a obra de Wajda, que poderia ter sido mais fiel ao texto, onde Kolia (a criança em questão) chega a extorquir até relógio de sua vítima ao longo do tempo e acaba tendo um castigo mais penoso do casal. Mesmo sendo um filme mudo, Wajda poderia ter usado alguns recursos para deixar mais divertido se utilizando do texto de Chekov. Um filme acima da média para seu tempo e recursos, mas que também não chega a ser grande coisa. Wajda é um dos meus diretores preferidos da vida.


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

FARRAPO HUMANO

Título Original: The Lost Weekend
Diretor: Billy Wilder
Ano: 1945
País de Origem: EUA
Duração: 100min

Sinopse: Don Birnam, um alcoólatra de longa data, está sóbrio há dez dias e parece ter superado o pior... mas seu desejo acaba de se tornar mais insidioso. Escapando de um fim de semana no campo planejado por seu irmão e namorada, ele começa uma farra de quatro dias que pode ser a última - de uma forma ou de outra.
 
Comentário: Vencedor do prêmio de Melhor Ator e do Grande Prêmio no Festival de Cannes e de mais quatro Oscars. Ray Milland é o grande trunfo do filme, apesar de quase todo o resto funcionar muito bem, entrega uma atuação ímpar. Apesar de ser um filme de 1945, ele foi lançado comercialmente em janeiro de 1946, que é o ano em que o filme se passa já que o feriado judeu do Yom Kipur ocorre em um sábado (em 1945 foi de um domingo para uma segunda). A direção do Billy Wilder é muito competente como sempre, mas me pareceu um filme diferente de todos os outros que assisti dele. A música de Miklós Rózsa me incomodou bastante, funciona muito bem para causar o desconforto que quer passar no começo, mas depois fica só cansativa mesmo, com momentos que parecia mais a trilha de um filme de ficção científica. Um filme bem a frente do seu tempo, mostrando o outro lado da glamourização da bebida alcoólica que ocorria nos EUA em um pouco mais de uma década após o fim da lei seca no país. Recomendadíssimo!


domingo, 28 de janeiro de 2024

O MUNDO DE APU

Título Original: Apur Sansar
Diretor: Satyajit Ray
Ano: 1959
País de Origem: Índia
Duração: 106min

Sinopse: Apu é um estudante recém-formado e desempregado que sonha em ser escritor. Um amigo de escola o convida para um casamento e ele acaba como o noivo da garota que estaria se casando. Mesmo com repulsa pela idéia, ele aceita e a leva, posteriormente, de volta a Calcutá.

Comentário: Fechando a trilogia de Apu com um ótimo filme. Discordo quando dizem que é o filme mais comercial só por ter um ritmo mais fácil que os outros, acho que o ritmo mais fácil se dá pela própria dinâmica do filme que é muito boa e nos pega direto no coração. Soumitra Chatterjee faz um ótimo Apu, mas fiquei imaginando que legal que seria termos o mesmo ator desde o começo como o Jean-Pierre Léaud nos filmes do Truffaut. Sharmila Tagore é um deleite, se você assiste este filme e não fica completamente apaixonado é porque seu coração já morreu. Uma das mulheres mais lindas que o cinema já viu. Uma trilogia cheia de sofrimento, despedaça a gente. O desfecho é lindo.


sábado, 6 de janeiro de 2024

DEPOIS DO VENDAVAL

Título Original: The Quiet Man
Diretor: John Ford
Ano: 1952
País de Origem: Irlanda
Duração: 129min

Sinopse: Um boxeador americano aposentado volta à sua cidade natal na Irlanda, onde se apaixona por uma ruiva enérgica cujo irmão despreza a união deles.

Comentário: Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza de onde saiu com outros 3 prêmios fora da competição oficial, também ganhou 2 Oscars incluindo o de melhor diretor. Hoje, há exatos 5 anos, eu estava em Cong na Irlanda, cidade que serviu para as filmagens deste filme, vivi ali um dos melhores dias da minha antiga vida até que uma semana depois ela foi completamente destruída fazendo com que eu nunca assistisse este filme. Uma espécie de comédia romântica com testosterona onde a competência do diretor consegue deslumbrar a gente como sempre. Wayne e O'Hara estão lindos demais e todo o elenco de apoio funciona. Interessante notar que o turismo na Irlanda só surgiu depois e por causa deste filme, já que muitos descendentes resolveram voltar para visitar o país depois de assisti-lo. Há uma estátua de bronze em Cong de John Wayne carregando no colo Maureen O'Hara e foi onde tomei o melhor café no país exatamente onde ficava o pub do filme, que hoje é uma espécie de restaurante para os turistas. Finalmente consegui assistir em uma espécie de ritual para exorcizar antigos demônios e adorei. Um dos grandes filmes do diretor.


segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

A ESTRADA DA VIDA

Título Original: La Strada
Diretor: Federico Fellini
Ano: 1954
País de Origem: Itália
Duração: 107min

Sinopse: Gelsomina é vendida por sua mãe para um lutador exibicionista e passa a acompanhá-lo em suas viagens como sua ajudante. A moça é amada e maltratada pelo homem bruto em uma relação conturbada, que reflete a sua própria vida.

Comentário: Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O que dizer deste filme do Fellini sendo Fellini? É o puro neorealismo italiano e achei melhor do que o Ladrões de Bicicletas do De Sica. Achei que os personagens foram tão bem trabalhados, de uma maneira tão profunda e realista que impressiona. Anthony Quinn esbanja talento e Giulietta Masina, como sempre, é uma força da natureza. O desfecho é arrebatador. O personagem do trapezista é extremamente chato, queria dar um murros na cara dele mais do que na do Anthony Quinn. Faz a gente ficar pensando dias depois sobre a natureza humana e sobre as condições que levam algumas pessoas a serem quem são.


domingo, 24 de dezembro de 2023

O PECADO

Título Original: Al Haram
Diretor: Henry Barakat
Ano: 1965
País de Origem: Egito
Duração: 96min

Sinopse: Uma camponesa pobre torna-se um símbolo da opressão dos trabalhadores neste sombrio drama social dirigido por Henri Barakat. Adaptado do romance de Youssef Idriss.
 
Comentário: Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. É o terceiro filme que assisto do diretor e confesso que foi o que menos gostei, acho que há uns problemas narrativos que permeiam toda a película, mas isso não tira o mérito e a força que o filme carrega. Um filme falando dos assuntos que se propõe a falar em meados da década de 60 em um país como o Egito, é para aplaudir de pé. Faten Hamamah está muito bem no papel principal, convence completamente o espectador. De tudo, o que mais gostei, foi a discussão sobre a figura do "imigrante", mostrando que o filme infelizmente ainda é muito atual (e não só nesse aspecto). É interessante a construção de alguns personagens coadjuvantes importantes que vão dando mais força ao filme fazendo nos conectar a eles, no entanto há personagens que aparecem para não agregar em nada.


sábado, 25 de novembro de 2023

A PAIXÃO DE ANA

Título Original: En Passion
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1969
País de Origem: Suécia
Duração: 101min

Sinopse: Um homem recentemente divorciado conhece uma viúva emocionalmente devastada e começam uma história de amor enquanto a comunidade da ilha passa a conviver com um maníaco que comete atos cruéis contra animais.
 
Comentário: É um autêntico Bergman, bem profundo com diálogos afiadíssimos que fazem o filme valer a pena, mas não gostei muito da narrativa. A relação entre ele e a Ana é construída de forma apressada, não convence e não me prendeu. Em contrapartida todo o mote sobre o maníaco atacando animais e como o Bergman tece a teia sobre isso criando dúvidas e certezas que se entrelaçam é genial. Obviamente que é um filme que merece ser visto, mas ao mesmo tempo em que teve partes que me prendeu bastante, teve outras que me dispersou bastante também. Elenco perfeito e confesso que quando começou o filme achei estranhíssimo um Bergman colorido (estou vendo a filmografia do diretor em ordem cronológica e este é o primeiro em cores). Funciona, mas prefiro o diretor em preto e branco.