quarta-feira, 15 de junho de 2016

A VINGANÇA DO ATOR

Título Original: Yukinojo Henge
Diretor: Kon Ichikawa
Ano: 1963
País de Origem: Japão
Duração: 108min

Sinopse: Em uma excursão com seu grupo de teatro kabuki, Yukinojo, ator principal da trupe, acaba cruzando com os três homens que levaram seus pais ao suicídio, 20 anos antes. Yukinojo então trama sua vingança, primeiro seduzindo a filha de um deles e depois os levando à ruína. 

Comentário: O filme tem suas qualidades e seus defeitos. A direção é belíssima, acho que o diretor poderia ter explorado mais cenas do teatro kabuki (a cena inicial é maravilhosa). Kazuo Hasegawa merece todos os créditos, interpretando dois papéis (do protagonista Yukinojo e do ladrão Yamitaro), confesso que só percebi que era o mesmo ator depois de um tempo. É o 300º filme do ator que tinha um pouco menos que 60 anos, estreou mais um filme neste mesmo ano e depois se aposentou (aparecendo somente em mais duas produções para a TV em 1964 e 1968 de acordo com o IMDB), faleceu em 1984. Yukinojo seria um dos primeiros (se não O primeiro) personagem transgênero no cinema? Dá uma bela discussão e muito pano pra manga. Achei que em alguns momentos o filme cai no melodrama de maneira muito desnecessária e é isto o que mais atrapalha seu desenrolar. As partes dos ladrões funcionam muito bem e servem de contraponto pra trama central. Ayako Wakao (que interpreta Namiji) está belíssima, acho que é o filme em que ela está mais bonita de todos os que assisti. Gostei bastante do ritmo do filme.


TORMENTOS D'ALMA

Título Original: Pressure Point
Diretor: Hubert Cornfield
Ano: 1962
País de Origem: EUA
Duração: 85min

Sinopse: Num presídio, o chefe de psiquiatria ouve as reclamações de um auxiliar que pensa em desistir do caso de um garoto negro. Ele acha que o chefe, por ser negro, poderá cuidar melhor desse cliente. O chefe então lhe conta sobre um dos seus primeiros pacientes, um prisioneiro seguidor da ideologia nazista, que tem sérios problemas psicológicos por causa da infância problemática. O paciente melhora e as autoridades querem dar a condicional, mas o doutor se nega, pois acha que ele é um homem perigoso.

Comentário: Alguns filmes se estendem demais e criam cenas desnecessárias, em vários comentários aqui eu digo que tal filme tinha que ter 10 minutos a menos ou 20... este peca pelo oposto, o filme podia ter uma meia hora a mais fácil. Sidney Poitier mais uma vez mostrando ser um excelente ator, sem medo de fazer filmes polêmicos, levantando bandeiras em uma época complicada para os negros. Bobby Darin (que já disse ser fã como cantor em vários outros comentários) mostra uma incrível evolução aqui como ator (pra quem viu ele em A Canção da Esperança, passando por Quando Setembro Vier, chegando ao O Inferno é Para os Heróis e finalmente chegando neste aqui, é simplesmente impressionante o salto de desenvolvimento que ele dá no quesito atuação). Um filme forte, que conta com algumas cenas adicionais dirigidas pelo famoso diretor Stanley Kramer (que é produtor do filme), Kramer foi um grande ativista contra o racismo americano, realizado filmes importantíssimos como Acorrentados ou Adivinhe Quem Vem Para Jantar. Achei que algumas coisas foram subaproveitadas no filme, como o papel do sempre maravilhoso Peter Falk. Um filme que vale bastante a pena assistir, mas que podia ter sido melhor se tivessem mais tempo pra desenvolver ainda mais os personagens do Falk e do Poitier. Sempre bom falar abertamente sobre preconceitos e fascismo em um momento tenso como o que vivemos nos dias atuais.


sexta-feira, 10 de junho de 2016

O DESERTO VERMELHO

Título Original: Deserto Rosso
Diretor: Michelangelo Antonioni
Ano: 1964
País de Origem: Itália
Duração: 116min

Sinopse: Chuva, neblina, frio e poluição assolam a cidade industrial de Ravenna, na Itália. Ugo, o gerente de uma usina local, é casado com Giuliana, uma dona de casa que sofre de problemas psicológicos. Um dia, ela conhece o engenheiro Zeller, o que pode mudar sua vida. Em O Deserto Vermelho, Antonioni, no auge de sua forma, aborda os temas centrais de sua filmografia: a incomunicabilidade e a solidão do homem contemporâneo.

Comentário: Antonioni é famoso por sua obra conhecida como a Trilogia da Incomunicabilidade composta pelos filmes: A Aventura, A Noite e O Eclipse. Bem, não entendo porque esse papo de "Trilogia" já que este filme encaixa como uma luva dentro do todo, formando assim uma "Quadrilogia". E digo mais, dentro da "Quadrilogia" O Deserto Vermelho é um dos melhores. Monica Vitti está em um de seus melhores papéis de toda a sua carreira, que deve ter exigido muito dela, está estupenda e competente como nunca. O filme tem um ritmo "Antonioni", devagar, complexo, parece que vai e não vai, mas a profundidade é tão grande que quando caímos tomamos um susto de nos vermos submerso nele. Em determinada cena o pai brinca com o filho e mostra um brinquedo com um giroscópio e explica que é por isso que os navios mantém sua estabilidade e o brinquedo não cai. A personagem é como o brinquedo, mas quebrado, que perdeu seu giroscópio, instável, caindo, perdida... Um baita filme, que deve trazer novas percepções a cada nova assistida.


MURIEL OU O TEMPO DE UM RETORNO

Título Original: Muriel ou Le Temps D'un Retour
Diretor: Alain Resnais
Ano: 1963
País de Origem: França
Duração: 111min

Sinopse: O enredo centra-se nos personagens de uma viúva (Delphine Seyrig, que ganhou a Taça Volpi de melhor atriz em Veneza, em 1963) e seu jovem enteado (Jean-Baptiste Thiérrée), ambos às voltas com difíceis lembranças que lhes pertubam o passado. Um antigo amor da juventude (Jean-Pierre Kérien) volta à vida da mulher e espanta o tédio de sua existência. Já o rapaz é assombrado por memórias de uma atrocidade que testemunhou durante a guerra da Argélia, quando uma jovem chamada Muriel foi torturada até a morte.

Comentário: O filme tem tantas coisas que me agradaram quanto coisas que me desagradaram. A direção de Resnais é ótima, a história é ótima e a personagem de Seyrig é perfeita (foi o que mais me prendeu em todo o filme, o desenvolvimento dela é muito, mas muito bom mesmo), mas em contrapartida tem o ritmo do filme, muito entrecortado, experimental demais, faz com que o filme fique travando demais conforme você assista. Por mais que o ritmo tenha certa semelhança com o trabalho anterior do diretor (Ano Passado em Marienbad), parece que no filme anterior o corte experimental cai como uma luva, aqui neste parece que já não cai tão bem. Me parece que muita coisa foi subaproveitada por causa do ritmo narrativo. Mas como no filme anterior, neste podemos também perceber que o tempo é o personagem principal, explicando talvez que o que pode parecer um subaproveitamento, na verdade são as lacunas do tempo, da memória, de nossa própria existência. Dá pra ficar pensando sobre o filme durante muito tempo, tentando preencher lacunas que não estão ali e é exatamente isto que faz de Resnais ser quem ele é pro cinema. Pode não ser o melhor filme dele, pode não ter me agradado tanto, mas a genialidade do diretor está tão forte aqui como em seus outros filmes.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

A TORRE DE LONDRES

Título Original: Tower of London
Diretor: Roger Corman
Ano: 1962
País de Origem: EUA
Duração: 79min

Sinopse: Em 1483, o rei de Inglaterra, Edward IV (Justice Watson), está às portas da morte. Embora este tenha dois filhos menores e os coloque a cargo do seu irmão George, duque de Clarence (Charles Macaulay), que nomeia Lord Protetor do Reino, o terceiro irmão, Richard, duque de Gloucester (Vincent Price), tem outros planos. Richard começa por matar o irmão George, para assegurar que dominará os pequenos príncipes, mas é desde logo assombrado pelo fantasma do irmão. A partir de então, num misto de ambição e loucura, Richard continuará a eliminar, um após um, todos os obstáculos para se tornar o rei.

Comentário: Ótimo filme de Corman e um excelente papel interpretado com maestria por Vincent Price. Quanto mais filme assisto com o Price, mais fico fã dele. O filme é sombrio e mais sério que alguns outros de Corman, conseguindo um clima ótimo e trás surpresas pro enredo que são muito boas. Uma crítica é que a personagem Anne (vivida pela atriz Joan Camden) poderia ser muito melhor utilizada na trama. O filme é rápido, sem rodeios e passa voando. Um dos filmes do Corman que mais gostei. Price faz o papel de um vilão corcunda, bem diferente de algumas coisas que estava acostumado. Os efeitos especiais estão muito bons pra época também.


VIVA A REPÚBLICA

Título Original: Ať žije Republika
Diretor: Karel Kachyňa
Ano: 1965
País de Origem: Checoslováquia
Duração: 127min

Sinopse: Olda Zdenek Lsiburek é um garoto submetido a espancamentos pelo pai cruel e às provocações de outras crianças por causa de sua baixa estatura. A mãe do menino é sua única protetora, enquanto seu pai está mais preocupado em ter seu cavalo confiscado pelo exército. Olda recebe uma ordem de seu pai para esconder o cavalo na floresta, mas os nazistas capturam o animal. Então o menino arrisca sua vida entrando furtivamente em um acampamento do exército russo para roubar um cavalo e não ter que enfrentar a ira de seu pai.

Comentário: Seguindo um pouco o mesmo assunto de seu filme de 1960 (Garoto-Estilingue), Kachyňa nos brinda com outra filme de guerra um pouco mais denso e pesado, que lembra bastante A Infância de Ivan, mas que tem seus momentos de descontração. É interessante perceber que os diretores desta época foram crianças durante a Segunda Guerra Mundial, então acho natural que tenham mostrado inúmeras vezes a guerra através dos olhos de crianças. O filme só peca em demorar demais, acho que em determinado ponto ficou um pouco cansativo. As imagens são maravilhosas, a narrativa é extremamente entrecortada, nos brindando com cenas do presente, passado e da própria imaginação do personagem. A crueldade das outras crianças para com o protagonista é de cortar o coração. Um filme de guerra, que apesar de momentos divertidos, foi um dos mais sombrios que já assisti, porque atinge direto na alma, onde mais dói.