quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A VISITA

Título Original: La Visita
Diretor: Antonio Pietrangeli
Ano: 1964
País de Origem: Itália
Duração: 106min

Sinopse: Pina e Adolfo, dois solitários que se conheceram pelos classificados de um jornal, encontram-se, nutrindo a esperança de que a amizade se transforme em amor. As diferenças são extremas. Mentiras, falsidades, traições, tantos artifícios surgem para tentar ocultar a incompatibilidade. O findar do dia não escapará do trágico, e sufocados por suas próprias individualidades terão de aprender a lidar com essa nova dor.

Comentário: Estreando prematuramente os filmes de 1964, pois assisti pensando que era de 1963. Pietrangeli vem desde 1960 fazendo um filme melhor do que o outro, este é o meu preferido dos três que já assisti. Um filme completamente despretensioso e  que tem como o tema central a solidão, a percepção da dor de se sentir sozinho nunca foi trabalhada de uma maneira tão descompromissada e tão real. Sandra Milo está apaixonante no filme, queria abraçá-la, confortá-la e dizer que ela não é a única que se sente assim no mundo. François Périer, no entanto, dá vontade de dar um murro na cara dele, consegue ser um nojento, mas que surpreende em seus momentos. A música de Armando Trovajoli é perfeita e a parte técnica tem seus belos momentos. Mistura de drama, comédia e romance.


A PADEIRA DO BAIRRO

Título Original: La Boulangère de Monceau
Diretor: Eric Rohmer
Ano: 1963
País de Origem: França
Duração: 23min

Sinopse: Um jovem estudante (Barbet Schroeder) sente-se atraído por uma garota que vê todos os dias na rua, apesar de jamais ter falado com ela. Quando ele enfim toma coragem de se aproximar, a garota desaparece. Durante várias manhãs ele faz plantão no local, na esperança de vê-la novamente. Enquanto espera ele passa a frequentar uma padaria, onde acaba conhecendo uma jovem atendente.

Comentário: Primeiro filme de uma série de seis em que o diretor intitulou como Seis Contos Morais. O grande problema do média metragem (pelas definições do Brasil, no cenário americano seria um curta) é que poderia ter muito mais minutos, a direção e a narrativa são ótimas e você fica querendo mais. "Quem Nunca Foi a Padeira do Bairro na Vida de Alguém?", este comentário da Letícia Couto no Filmow resume tudo o que o filme nos passa, em poucos minutos o diretor consegue uma carga emocional enorme sobre várias questões da vida de qualquer pessoa, o que torna este pequeno grande filme em uma peça única da sétima arte.


segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A CIDADELA DOS ROBINSONS

Título Original: Swiss Family Robinson
Diretor: Ken Annakin
Ano: 1960
País de Origem: EUA
Duração: 122min

Sinopse: Baseado na clássica obra literária do escritor Johann Wyss, leva-nos para as paisagens maravilhosas dos mares do sul, cheias de animais exóticos e piratas traidores. Esta aventura conta as corajosas proezas da família Robinson após o navio onde viajavam naufragar e irem parar em uma ilha deserta. Trabalhando em equipe, eles conseguem ultrapassar os obstáculos da natureza e transformar a sua nova casa numa comunidade 'civilizada'. Mas o último desafio aparece quando um bando de assassinos piratas ameaçam destruir o paraíso provisório deles.

Comentário: Um filme família típico dos Estúdios Disney desta época, com a competente direção de Ken Annakin (responsável pela direção da parte dos britânicos do sensacional O Mais Longo dos Dias) e um elenco cativante (tirando o Francis Robinson, claro, moleque chato pra caralho) é diversão mais do que garantida. Parece que os filmes de aventura deram lugar aos filmes de ação, parece faltar filmes deste gênero para a molecada de hoje em dia. O que me incomodou muito no filme é a visão machista que esses filmes família obrigatoriamente acabam tendo, enquanto os meninos se divertem na lagoa a mãe apenas observa tudo com muita roupa, ridículo, não me espanta essa visão enraizada na nossa sociedade, afinal nossos pais e muitos de nós mesmos crescemos assistindo essas mensagens escondidas (Chega ao cúmulo de no filma a mãe não ter nem um nome, todos tem nomes, a personagem dela está creditada apenas como Mãe Robinson). Apesar do filme ter cenas completamente absurdas e sem cabimento, é preciso lembrar sempre que é um filme descompromissado, pra outro tipo de público e consegue cumprir muito bem seu objetivo de puro entretenimento. Janet Munro, que faz o papel da Roberta, está linda no filme, muito triste ter morrido com apenas 38 anos de idade.

QUEM AMA, PERDOA

Título Original: À Tout Prendre
Diretor: Claude Jutra
Ano: 1963
País de Origem: Canadá
Duração: 100min

Sinopse: Primeiro longa metragem ficcional de Claude Jutra, o filme é um ícone da geração de artistas e intelectuais franco-canadenses que viveram as transformações culturais e políticas dos anos 60 no Canadá. Claude é um cineasta em crise política, amorosa e identitária que se apaixona por uma cantora haitiana, Johanne.

Comentário: O filme estava indo muito bem até sua metade, daí acho que o diretor se perdeu, o ritmo se arrastou, ficou cansativo, sempre com uma direção muito boa, mas no geral não achei tudo isso. O personagem principal é um cineasta com o mesmo nome do diretor, o que faz a gente ficar pensando o quanto dele o personagem realmente tem. O Claude (do filme) é um grande filho da puta, não consegui me identificar ou sentir nenhum tipo de empatia pelo personagem, fico pensando se todo esse nível de egoísmo egocêntrico não tenha sido um dos fatores do suicídio do Claude (na vida real). O filme tem uma aparição relâmpago do François Truffaut, que com certeza influenciou muito essa nouvelle vague canadense que estava surgindo. Johanne Harelle, que interpreta uma personagem que também se chama Johanne (ela mesma?) está ótima, consegue roubar as cenas, juntando ela e a direção é o que faz o filme valer a pena.


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

TOTÒSEXY

Título Original: Totòsexy
Diretor: Mario Amendola
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 86min

Sinopse: Continuação do filme Totò Na Noite que aborda as aventuras de dois contrabaixistas que viajam por vários países à procura do sucesso, mas que acabam na cadeia.

Comentário: Como a própria sinopse já diz, é uma continuação do filme Totò na Noite, mas é muito inferior ao primeiro, não trás nada de novo, é quase uma cópia do primeiro, mas de um jeito bem meia boca. As partes musicais do primeiro foram bem melhores (Tirando a cena com a dançarina Dodo D'Amburg neste aqui) do que este, a própria história é mal desenvolvida, ficam batendo na mesma tecla sem parar, cheio de clichês. Uma sequência completamente desnecessária, mesmo porque o primeiro filme é bem regular, nada demais, há filmes muito melhores com o Totò pra assistir do que estes dois. Tirando uma ou duas cenas o filme é sofrível, parecia que eu tava vendo o primeiro filme em uma versão piorada.


DEU A LOUCA NO MUNDO

Título Original: It's a Mad, Mad, Mad, Mad World
Diretor: Stanley Kramer
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 159min

Sinopse: Depois de cumprir 15 anos atrás das grades, ladrão vai procurar os US$ 350 mil que roubou de um banco e deixou escondido, a caminho do dinheiro ele sofre um acidente e, antes de morrer, dá apenas pistas de onde estão os dólares, a partir de então várias pessoas saem desesperados para encontrar a fortuna.

Comentário:  É uma boa comédia, mas depois de um tempo fica um pouco cansativa, martela demais na mesma piada, nas mesmas situações, mas não deixa de ter momentos brilhantes com alguns personagens. Ao longo de todo filme várias celebridades fazem pontas, temos que ficar atento para não perdê-las em cena: Jerry Lewis, Buster Keaton, Os Três Patetas, entre muitos outros. O filme tem uma das melhores sequências de dança da história do cinema, em uma participação mais que especial de Barrie Chase, famosa como par de dança de Fred Astaire. Quem também está linda no filme é Madlyn Rhue, conhecida dos trekkers por ser o interesse romântico de Khan no episódio Space Seed da série clássica. O elenco principal está muito bem, parece que houve uma boa química entre eles, mas a direção de Kramer, apesar de se segurar muito bem na maior parte do filme, tem alguns erros de continuidade gritantes (muito evidente na cena da escada do bombeiro). O filme poderia ser mais curto, porém existe uma versão estendida com 192min, mas sinceramente não sei o que mais eles poderiam colocar no filme. O desfecho podia ser melhor, mas diverte, foge completamente dos padrões de todos os filmes que havia assistido do diretor. Aquele filme Tá Todo Mundo Louco de 2001 é descaradamente baseado neste, mas por incrível que pareça este filme não foi creditado no roteiro da nova versão.


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

LUZ DE INVERNO

Título Original: Nattvardsgästerna
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1963
País de Origem: Suécia
Duração: 81min

Sinopse: Após ler nos jornais que a China possuí a bomba atômica e pretende usá-la, um pescador vai à igreja, buscando palavras de conforto e consolo do pastor. Porém, este não consegue ajudá-lo porque está passando por uma crise de fé, temendo também o apocalipse nuclear.

Comentário: Mais uma obra prima de Bergman onde a fé, a solidão, a procura incessante pela paz interior e no conforto do calor humano nos faz refletir sobre nós mesmos. É o segundo filme da "Trilogia do Silêncio", mas mesmo tendo preferido o Através de um Espelho, este é muito bom, porém de um ritmo difícil, complexo, intrincado, que pode parecer chato pro telespectador acostumado com filmes blockbusters. Tem horas que cai em uma melancolia, tem horas que nos instiga e tem horas que aborrece. O filme é uma crítica a religião e a falta dela, não trás respostas prontas e deixa tudo para o telespectador refletir, mas mais do que o tom religioso é um filme sobre as aflições de seres humanos se relacionando com outros seres humanos. O diálogo sobre a Paixão de Cristo é um dos melhores já escritos pelo Bergman e a cena em que a atriz Ingrid Thulin lê sua carta é uma das mais belas em todo o filme. Sufocante e instigante, um autêntico Bergman em sua melhor fase.


DOIS TEMPOS NO INFERNO

Título Original: Két Félidö a Pokolban
Diretor: Zoltán Fábri
Ano: 1963
País de Origem: Hungria
Duração: 119min

Sinopse: Para o aniversário de Hitler, os alemães decidem organizar uma partida de futebol contra os prisioneiros húngaros durante a Segunda Guerra Mundial. Eles determinam que Ónodi (Dió), um famoso jogar de futebol, organize o time. Ónodi por sua vez exige comida, uma bola e dispensa do trabalho para treinar. Porém, ele é convencido pelo time a fugir, assim que encontrem uma oportunidade.

Comentário: Guerra e futebol, estreando os filmes da Hungria no blog em grande estilo, pois é um baita filme. O filme usa como base a Partida da Morte, um jogo de futebol, com várias versões sobre o que realmente aconteceu, que teria ocorrido na Rússia em 9 de agosto de 1942, porém todo o filme é fictício, personagens, acontecimentos, só usaram a ideia de um fato real, então não confundam o filme com a história de fato. Os personagens são excelentes, todos muito bem trabalhados com ótimos momentos em tela, a direção é ótima, música bem conduzida e o final é arrebatador. Um dos melhores filmes do ano com certeza, recomendo muito.


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

55 DIAS EM PEQUIM

Título Original: 55 Days at Peking
Diretor: Nicholas Ray
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 162min

Sinopse: Um pequeno grupo de estrangeiros se vê encurralado no interior da Cidade Proibida de Pequim, cercados por milhares de fanáticos chineses, durante a revolta dos Boxers. A coragem e liderança de um marinheiro americano e do Embaixador inglês são a única esperança contra o perigo intransponível, enquanto uma linda condessa russa deve optar entre a liberdade e o compromisso. 

Comentário: A parte técnica do filme é impecável: direção, música, figurino, atuações, iluminação... enfim, foi mais por isso que não dei uma nota mais baixa, mas não tem como fingir que não é uma superprodução Hollywoodiana, onde tentam colocar como heróis os vilões e vice-versa. Os fatos históricos em si estão todos alterados, as decisões do embaixador da Inglaterra (David Niven) beiram ao patético e a relação entre sua esposa é enfadonha como todo o resto de comparação história com os fatos inventados para a película. Se pararmos pra pensar, podemos ver aqui os Estados Unidos metendo o nariz onde não é chamado desde o começo do século XX, não mudaram nada em mais de cem anos. Ava Gardner ainda esbanja beleza e sensualidade com seus mais de quarenta anos. Charlton Heston esbanjando canastrice e cai como uma luva no papel.


O CHICOTE E O CORPO

Título Original: La Frusta e Il Corpo
Diretor: Mario Bava
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 87min

Sinopse: No século XIX, um nobre sádico aterroriza os membros de sua família. Ele é encontrado morto, mas seu fantasma retorna para assombrar os residentes de seu castelo...

Comentário: Tinha tudo pra ser o melhor filme do Bava, mas houve vários deslizes. Há alguns problemas técnicos, como o som do vento com as árvores paradas, mas isto da pra ignorar, a música é ótima, mas se torna tão repetitiva que começa a encher o saco já na metade do filme e alguns furos no roteiro que não colocarei aqui se não vou dar spoilers atrapalham um pouco a lógica do desfecho. O que chama a atenção no filme é a construção psicológica dos personagens, é ótima, cada personagem tem uma carga dramática muito bem construído (mesmo os criados que poderiam ter tido um destaque melhor), gostei muito de todas as interpretações. A iluminação de algumas cenas é simplesmente genial, Bava mostrando que tinha talento de sobra.


sábado, 19 de setembro de 2015

JUDEX

Título Original: Judex
Diretor: Georges Franju
Ano: 1963
País de Origem: França
Duração: 97min

Sinopse: Favraux, banqueiro inescrupuloso, recebe um dia uma misteriosa mensagem assinada por "Judex", ameaçando-o caso não reembolse aqueles a quem lesou com transações fraudulentas. Favraux ignora a ameaça. Mas à exata hora contida na carta (meia-noite), no dia do noivado de sua filha Jacqueline, o banqueiro cai morto, fulminado...

Comentário: Refilmagem do clássico de 1916 dirigido por Louis Feuillade, não assisti ao original, mas Franju mostra aqui toda a sua paixão pelo começo do cinema, não é a toa que foi responsável pelo resgate da obra de Méliès. O filme tem esse clima de filme clássico, chega a ser um pouco inocente demais, mas é simplesmente de tirar o fôlego, perde um pouco o ritmo na metade, mas tem todo o clima dos antigos Pulps que publicavam histórias de heróis como O Sombra e Doc Savage. A direção é magnífica e a música de Maurice Jarre completa a perfeição do filme. Nostalgia total, não tente assistir ao filme com os olhos de hoje em dia, na verdade talvez não seja nem legal assistir ao filme com os olhos dos anos sessenta, ele remete a uma época mais antiga ainda. Francine Bergé consegue aqui ser uma das vilãs mais sexy da história do cinema.


ADEUS, AMOR

Título Original: Bye Bye Birdie
Direção: George Sidney
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 111min

Sinopse: Quando o astro do rock e paixão das adolescentes Conrad Birdie é recrutado, as garotas do país vão à loucura e o compositor de Conrad, Albert (Dick Van Dyke), fica desempregado. Assim, Albert e sua namorada (Janet Leigh) organizam um concurso nacional no qual uma felizarda ganhará um beijo de adeus de Conrad no programa de TV de Ed Sullivan. Kim McAfee (Ann-Margret) é a ganhadora e toda a comitiva de Conrad se dirige até a pequena cidade—para desgosto do sempre irritado pai da garota (Paul Lynde) e do ciumento namorado (o cantor Bobby Rydell) O resultado é o caos e uma série hilariante de complicações românticas.

Comentário: O filme tem seus acertos e seus erros, talvez tenha envelhecido um pouco mal, mas no geral é regular. O personagem de Birdie é uma clara paródia ao Rei do Rock, as adolescentes eufóricas, as roupas, a canastrice, as reboladas, até as alfinetadas do Frank Sinatra aparecem no filme, tudo remete para o Elvis Presley na minha opinião. O relacionamento entre os personagens de Van Dyke e Janet Leigh é a melhor parte do filme, as cenas musicais variam bastante, tem boas sequências e outras bem toscas. Um filme divertido, mas que merece um ponto a mais só por ter a Ann-Margret dançando com aquela roupa cor de rosa, o diretor soube aproveitar a beleza dela em cada enquadramento (Lembrei da Jennifer Lawrence dançando com aquela calça branca em O Lado Bom da Vida). Apaixonante! Será que só eu achei que a obsessão com a mãe do personagem de Dick Van Dyke era uma homenagem a própria Janet Leigh, parodiando o Norman Bates de Psicose?

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

VIDAS SECAS

Título Original: Vidas Secas
Diretor: Nelson Pereira dos Santos
Ano: 1963
País de Origem: Brasil
Duração: 100min

Sinopse: Baseado na obra de Graciliano Ramos, mostra a saga da família retirante pressionada pela seca no sertão brasileiro. Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais velho e o mais novo, além da cachorra Baleia, atravessam o sertão tentando sobreviver.

Comentário: A direção de Nelson Pereira dos Santos é simplesmente maravilhosa, impressiona muito, mas o filme tem seus altos e baixos. Não pude deixar de comparar com o filme A Ilha Nua de Kaneto Shindō lançado dois anos antes, o filme japonês parece ser irmão deste brasileiro, mas superior exatamente por ser mais contemplativo e menos interativo. O filme podia ter bem menos diálogos, como no livro, e os diálogos que tem parecem não convencer muito bem, tem horas que os atores trabalham muito bem sim, ao final do filme podemos ver que o ator Átila Iório é um puta ator, mas me parece que em outras cenas faltou um pulso firme da direção cobrando melhores interpretações, mas isto é o de menos. Podemos ver aqui o cinema brasileiro não devendo em nada para o cinema de vanguarda europeu. Interessante lembrar que neste ano de 1963 o Brasil estava em alvoroço sobre as ideias de reforma agrária discutidas pelo presidente João Goulart, assunto este que foi determinante para o golpe que viria no ano seguinte.


Título Original: 8½
Diretor: Federico Fellini
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 139min

Sinopse: Prestes a rodar sua próxima obra, o cineasta Guido Anselmi (Marcello Mastroianni) ainda não tem ideia de como será o filme. Mergulhado em uma crise existencial e pressionado pelo produtor, pela mulher, pela amante e pelos amigos, ele se interna em uma estação de águas e passa a misturar o passado com o presente, ficção com realidade. 

 Comentário: O supra sumo da metalinguagem no cinema, na minha humilde opinião, não é um filme fácil, em alguns momentos não é nem um filme legal de assistir, talvez o filme mais complexo de Fellini, mas é um baita filme. A parte técnica é impecável, o roteiro é tão amarrado e bem escrito que não há nada no filme que não reflita a genialidade do diretor. Você assiste e não sabe no que pensar, no que acreditar: o que faz parte do filme? O que faz parte do diretor? O que é ficção dentro do filme? O que é realidade dentro do filme? Pra quem acha Birdman um filme original, é porque carece de assistir filmes como esse, que já mostra muitas das ideias do filme vencedor do Oscar pelo menos 50 anos antes.  Um filme que deve ter sido super difícil de filmar. O filme ganhou dois Oscars, incluindo o de Melhor Filme Estrangeiro, foi indicado a quatro (incluindo melhor Diretor), pensando que neste ano deram o Oscar de melhor diretor pro Tony Richardson e seu As Aventuras de Tom Jones, chega a ser praticamente um sacrilégio na minha opinião (Mas Oscar é Oscar, quem leva a sério?). Vale a pena assistir, mas tem que estar no clima. Fellini provou aqui, depois de realizar As Noites de Cabíria e A Doce Vida, que não era gênio de um filme só.


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

TERRA DE UM SONHO DISTANTE

Título Original: America America
Diretor: Elia Kazan
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 168min

Sinopse: No final do século XIX um homem cresce em um pequeno povoado na Turquia como membro da minoria grega. Quando a opressão por partes dos turcos aumentou, seu pai o enviou para Constantinopla, onde se esperava que ele ganhasse dinheiro para unir a família. No entanto o jovem sonha em ir para a América.

Comentário:  Está longe de figurar entre as maiores obras do diretor, o filme é cheio de estereótipos e nitidamente feito para agradar o público americano. A mulher com cidadania americana que ele conhece não retrata em nada as mulheres do final do século XIX, colocaram características de uma mulher independente dos anos sessenta nela, e estas coisas permeiam todo o filme se você prestar atenção. No começo do filme já sabemos que ele vai conseguir chegar nos Estados Unidos, então não é spoiler, mas tudo no filme é muito bonito, tudo muito irreal, quando a realidade de que muito provavelmente ele comeu o pão que o diabo amassou nos Estados Unidos também é melhor varrer pra baixo do tapete. O personagem é completamente irresponsável, ingênuo e maquiavélico até certo ponto. O filme é longo demais, poderia ter uns trinta minutos a menos. Um bom filme, com uma excelente direção (nesse quesito é difícil o Kazan decepcionar), mas muito aquém dos filmes do diretor. Sem querer entrar em polêmica, mas parece um filme em que Kazan tenta aliviar a própria consciência depois de ter trocado a alma por uma piscina (como disse Orson Welles), querendo dar uma desculpa ou deixando o público cair no velho ditado "Os Fins Justificam os Meios" de uma maneira um pouco enfadonha.


O MUNDO FABULOSO DE BILLY LIAR

Título Original: Billy Liar
Diretor: John Schlesinger
Ano: 1963
País de Origem: Inglaterra
Duração 98min

Sinopse: Um jovem rapaz vive sonhando e inventando histórias para se enganar de sua própria vida monótona, fingindo ser um herói. Mas com tantas mentiras, acaba ficando desacreditado, e tem uma chance única de recomeçar sua vida, ou continuar a se enrolar cada vez mais.

Comentário: Parece que eu não sou muito fã dos filmes do diretor, este é melhor o que o anterior que assisti (Ainda Resta Uma Esperança), apesar de tentar retratar as coisas com realismo, pra mim várias cenas soam de maneira falsa. Novamente não tenho nenhuma crítica com a direção e atuações, mas a narrativa que é cheia de entraves, os momentos de carga sentimental não tem sentimento, é tudo muito falso, como disse anteriormente. Como este é melhor que o anterior, vamos ver se o diretor consegue ir fazendo um filme melhor do que o outro, mas no geral achei um filme bem dispensável. Não entendo as traduções de filmes no mercado nacional, o título com Billy Liar no nome fica completamente sem sentido, já que o nome do personagem é Billy Fisher, teria muito mais coerência deixar o título nacional com o "Billy Mentiroso" no nome.


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

VIAGEM AO FIM DO UNIVERSO

Título Original: Ikarie XB-1
Diretor: Jindřich Polák
Ano: 1963
País de Origem: Checoslováquia
Duração: 83min

Sinopse: No ano de 2163 a nave Ikarie XB-1 é enviada para o misterioso "Planeta Branco" em órbita da estrela Alpha Centauri. Durante o voo, a equipe deve se adaptar à vida no espaço, bem como lidar com vários perigos que encontram, incluindo uma nave espacial abandonada do século XX, armado com armas nucleares, uma mortal e radioativa "estrela negra", e o colapso mental de um dos membros da tripulação que ameaça destruir a nave espacial.

Comentário: Baseado no romance de 1955 Oblok Magelana (A Nuvem de Magalhães), do autor de ficção científica polonês Stanislaw Lem, o filme cumpre o que promete, quanto a isso não resta dúvida, mas é inegável o fato de que ele tenha envelhecido um pouco mal. Vemos algumas coisas que simplesmente não batem, a festa e comportamento é típico dos anos sessenta: será que achavam que os anos sessenta iam durar até o ano de 2163 ou será que o que vemos é um revival dos anos sessenta em pleno século XXII? Quando acontece o nascimento de um bebê e vemos todos os astronautas abandonando os seus postos é impensável não pensar na falta de profissionalismo deles. Posso estar muito chato, estar muito crítico, mas é o tipo de filme que me ataca este lado sombrio meu. Mas o filme não é feito só de erros, há muitas partes ótimas, e como eu disse anteriormente, ele cumpre o que promete. Há várias cenas maravilhosas, os efeitos especiais são ótimos pra época, levanta questionamentos válidos até para os dias de hoje e alguns dizem que o Kubrick se baseou bastante neste filme para fazer o 2001 - Uma Odisseia no Espaço. É um filme que merece ser assistido, mas com os olhos dos anos 60. Vale destacar que é uma ficção científica bem mais adulta em comparação ao que era produzido no cinema americano, pode-se dizer que foi uma precursora de Star Trek, mas sempre lembrando que neste mesmo ano começou a série Doctor Who, que pra mim abordava temas bem elevados se compararmos filmes de ficção desta época.

A LISTA DE ADRIAN MESSENGER

Título Original: The List Of Adrian Messenger
Diretor: John Huston
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 94min

Sinopse: Antes de viajar, o escritor Adrian Messenger pede a um amigo, Anthony Gethryn, que verifique uma lista de nomes. Quando o avião em que viajava explode no ar, a tarefa se torna mais séria. Enquanto Gethryn verifica a lista, descobre que as pessoas nela atreladas morreram em circunstâncias misteriosas. Com o auxílio de um sobrevivente do acidente aéreo, Gethryn tenta descobrir quem estaria por trás de todas as mortes.

Comentário: Não é o melhor filme do Huston, mas com certeza é um dos mais divertidos. Fiquei procurando os atores durante o filme e confesso que só o Robert Mitchum não me enganou, um excelente trabalho de maquiagem pra época. A história é muito boa, não fica devendo em nada pra nenhum filme noir. O filme é uma produção americana, apesar de se passar na Inglaterra e ter sido filmado lá, o ator principal (George C. Scott) consegue convencer muito bem como um perfeito inglês. A direção de Huston é sempre competente e mesmo este sendo um filme meio obscuro de sua filmografia, recomento, mesmo pra quem não é fã do diretor. A cena final parece tirada de um filme do William Castle.


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

OLHOS DIABÓLICOS / A GAROTA QUE SABIA DEMAIS

Título Original: La Ragazza Che Sapeva Troppo
Diretor: Mario Bava
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 88min

Sinopse: Nora Davis viaja para Roma, onde ficará na casa de sua tia Edith. Infelizmente, já na primeira noite, Edith morre. Nora sai pela noite em busca de ajuda e acaba transformando-se em testemunha ocular de um assassinato. Sendo uma mulher jovem, com um apetite insaciável por literatura de crime e mistério, Nora não consegue fazer qualquer um acreditar em sua história. 

Comentário: Alguns dizem que é o melhor filme do Bava, não sei se concordo, o filme é muito bom, consegue criar um clima de tensão ótimo e manter um desenvolvimento excelente até o desfecho, mas acho que prefiro A Máscara de Satã. Tem alguns momentos, como a cena final que podemos ver um Bava brincalhão, que tira completamente toda a seriedade do filme, não sei se gostei disto. Mas vale dizer que este filme nos apresenta a melhor direção de Bava, tecnicamente é um filme perfeito, os enquadramentos, as cenas, é o diretor em sua melhor direção. As atuações são boas, nada demais, mas conseguiu me deixar tenso, no melhor estilo Hitchcock, e isto é que conta. O filme foi lançado com o título "Olhos Diabólicos" no Brasil (Talvez pra imitar o título americano que era Evil Eye), mas hoje é possível achar em alguns lugares com o título A Garota Que Sabia Demais.


A IMORTAL

Título Original: L'Immortelle
Diretor: Alain Robbe-Grillet
Ano: 1963
País de Origem: França
Duração: 101min

Sinopse: Um homem que se depara com uma mulher de identidade confusa em Istambul, uma história não-linear de inquietude obsessiva, o fantasma de uma sedutora vislumbrada no passado, fantasma nascido de uma empregada, de uma dançarina de cabaré e de uma imagem contemplada na entrada de uma mesquita - um quebra-cabeça mental.

Comentário: O filme é muito bom, não tem como não compará-lo com O Ano Passado em Marienbad, mas por pura coincidência, pois o diretor garante que terminou o roteiro do filme um pouco antes do famoso filme de Alain Resnais. A direção é impecável, o que chama a atenção, já que é o primeiro filme de Robbe-Grillet. O ator Jacques Doniol-Valcroze mostra que, além de bom diretor (ele dirigiu o filme Amor Livre), também é um bom ator, mas é Françoise Brion que rouba a cena. A atriz consegue criar uma personagem misteriosa, talvez sua beleza exótica tenha ajudado, mas é impressionante como o papel lhe caiu tão bem. O desfecho, pra mim, é a única coisa que impede o filme de fechar com nota máxima, mas não deixa de ser um baita filme. Segundo o diretor François Truffaut, que era amigo do diretor na época, o filme teve forte influência de Alfred Hitchcock, mais precisamente do filme Vertigo.


segunda-feira, 7 de setembro de 2015

IRMA LA DOUCE

Título Original: Irma La Douce
Diretor: Billy Wilder
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 137min

Sinopse: Conheça Nestor (Jack Lemmon), um jovem com uma vida amorosa muito complicada. Contratado como "gerente de negócios" de Irma La Douce (Shirley MacLaine), uma orgulhosa e bem-sucedida prostituta, o pobre rapaz acaba apaixonado por ela! Mas como manter fiel uma parisiense tão popular como Irma?

Comentário: Billy Wilder reúne a mesma equipe de seu filme ganhador do Oscar (Se Meu Apartamento Falasse) e nos brinda com uma outra excelente comédia. O filme cativa, Shirley MacLaine está encantadora demais no filme, Jack Lemmon sempre surpreendendo com sua versatilidade. O filme tem umas partes que caem no absurdo, fica um pouco forçado, mas mesmo assim não deixa de ser muito acima da média. Não assisti aos filmes que concorriam como melhor atriz contra a Shirley MacLaine, mas posso dizer que ela era uma das concorrentes mais fortes ao prêmio, uma pena que não tenha ganhado por este papel. A direção, música, atuações, roteiro, tudo faz um filme leve, divertido e que entretém muito bem.


O LEOPARDO

Título Original: Il Gattopardo
Diretor: Luchino Visconti
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 185min

Sinopse: Sicília, durante o período do "Risorgimento", o conturbado processo de unificação italiana. O príncipe Don Fabrizio Salina (Burt Lancaster) testemunha a decadência da nobreza e a ascensão da burguesia, lutando para manter seus valores em meio a fortes contradições políticas.

Comentário:  Tecnicamente o filme é perfeito, as atuações são soberbas, mas no geral o filme é bem arrastado e enche um pouco o saco sim, afinal são três horas onde tudo é muito sutil, muito parado e registra uma momento histórico muito específico da Itália, que pra quem não estiver situado pode se sentir meio perdido. De resto o filme é brilhante, as metáforas sobre a queda da realeza italiana é trabalhado de maneira perfeita, não sei se daria a Palma de Ouro para o filme, Harakiri estava concorrendo no mesmo ano e ganhou o Prêmio do Juri, eu acho que dava a Palma de Ouro pro filme japonês. Mas pensando em toda a parte técnica e no trabalho do Burt Lancaster (Que tem se tornado cada vez mais meu ator preferido junto com o Mastroianni), podem premiar o filme sim, mesmo ele sendo meio difícil de assistir. Luchino Visconti filmava a mesma cena com umas três câmeras pra deixar os cortes na edição mais realistas, o cara era muito foda no que fazia, mas este está longe de ser seu melhor filme.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

CÉU E INFERNO

Título Original: Tengoku To Jigoku
Diretor: Akira Kurosawa
Ano: 1963
País de Origem: Japão
Duração: 143min

Sinopse: Perto de resolver uma situação crítica em sua empresa, para a qual reservou uma grande quantia em dinheiro, o executivo de uma fábrica de sapatos descobre que seu filho foi raptado. O valor do resgate pedido pelos sequestradores se aproxima do dinheiro que tem em mãos para o seu negócio. Porém, quando resolve salvar a vida do filho, ele tem uma surpresa.

Comentário: Aqui vemos mais uma vez porque Kurosawa é mestre no que faz, um excelente filme em três atos que lembra muito aos filmes do Hitchcock. No primeiro ato temos um thriller psicológico onde vemos brilhar a atuação de Toshirō Mifune, no segundo ato temos um filme mais investigativo encabeçado pelo também ótimo ator Tatsuya Nakadai e por fim temos o desfecho. O filme é cumprido, talvez podia ter sido encurtado um pouco, tem horas que parece enrolar, mas está longe de ser cansativo, e se cai em alguns momentos, são momentos rápidos, na grande maioria o filme prende muito bem. Um filme que deveria ser mais conhecido dentro da carreira do Kurosawa.


CHARADA

Título Original: Charade
Diretor: Stanley Donen
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 113min

Sinopse: Em Paris a americana Regina Lambert (Audrey Hepburn), que recentemente ficou viúva, tenta entender que tipo de vida o marido levava e onde podem estar escondidos os US$ 250 mil que muitos acreditam estar com ela.

Comentário: Stanley Donen se redimiu depois do péssimo Do Outro Lado, O Pecado, este é um ótimo filme. O grande trunfo do filme é o fato dele não se levar a sério, conseguindo assim ser um filme de suspense, mistério, reviravoltas, ação e principalmente uma comédia. Cary Grant consegue um de seus melhores papéis, e sua química com Audrey Hepburn está excelente. O restante do elenco complementa e engrandece o filme. Se estiver procurando um filme descompromissado por puro entretenimento, este é um dos melhores nesse sentido. Em meio a tantas produções atuais que trata o telespectador como um completo retardado, podemos ver aqui que é possível fazer filmes completamente comerciais de alto nível, são filmes como este que estão faltando em Hollywood.