terça-feira, 31 de dezembro de 2024

O CORINTIANO

Título Original: O Corintiano
Diretor: Milton Amaral
Ano: 1966
País de Origem: Brasil
Duração: 99min

Sinopse: Manuel é um barbeiro louco por um time de futebol de São Paulo, o Corinthians, e por isso vive tendo problemas com vizinhos e familiares.

Comentário: Adoro o Corinthians, é uma paixão, mas sempre achei doentio essa obsessão por futebol que leva as pessoas a terem uma relação nada saudável com esse esporte que se entrelaça a cultura brasileira. O filme é divertido, acho que serve tanto para alívio cômico quanto para críticas pontuais, o que reforça o que eu já havia escrito aqui sobre Mazzaropi: um gênio! Confesso que preferi ao filme Tristeza do Jeca, mas a proposta aqui é completamente diferente. O filme, apesar de ter uma linearidade, funciona como blocos de piadas curtas, que vão seguindo adiante na narrativa. Não teve como não lembrar do padre no balão em determinada cena. E o burro é muito fofo. As críticas não ficam só no âmbito futebolístico, mas também no social. Gostei dos arcos dos filhos, mas podiam ter elaborado um pouco mais as coisas. Há alguns momentos que não funcionam, talvez por estarem datados ou perdidos na narrativa, mas o filme tem mais acertos que erros no geral.


domingo, 29 de dezembro de 2024

O MÁGICO DE OZ

Título Original: Wizard of Oz
Diretor: Victor Fleming & King Vidor
Ano: 1939
País de Origem: EUA
Duração: 101min

Sinopse: Após um tornado em Kansas, Dorothy, vai parar com sua casa e seu cachorro na fantástica Oz, onde as coisas são coloridas, bonitas e mágicas. Porém, o seu maior desejo é retornar de volta para casa, para isso ela deve encontrar um mágico, que lhe mostrará como realizar esse seu desejo. Para chegar até ele, contudo, Dorothy, viverá uma aventura inesquecível através do caminho de tijolos amarelos.

Comentário: Indicado a Palma de Ouro na primeira edição do Festival de Cannes. Dos poucos natais que passei em família na minha infância, uma das recordações que mais fortes é de sempre assistir a este filme no fim de noite de madrugada. Revendo hoje, é impressionante como ainda mantém a mesma mágica de outrora, tudo no filme é lindo e funciona tão bem. O ritmo, a história e os personagens que vão surgindo para cativar cada vez mais a audiência. Judy Garland é um espetáculo à parte, as músicas é o toque final que faz deste filme uma obra indispensável na história do cinema. Acho que falta filmes assim para a geração atual, mesmo tendo excelentes filmes para o público infantil hoje, parece que tudo é feito para tentar agradar os pais também, com humor ácido escondido nas entrelinhas ou piadas que as crianças nem entendem para ampliar o público, aqui tudo é lúdico com mensagens importantes e que continuam atuais para mim. Lindo!


quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

...E O VENTO LEVOU

Título Original: Gone With The Wind
Diretor: Victor Fleming
Ano: 1939
País de Origem: EUA
Duração: 233min

Sinopse: Uma jovem sulista e manipuladora e um aventureiro oportunista se enfrentam em um romance turbulento enquanto a sociedade ao seu redor desmorona com o fim da escravidão e é reconstruída durante os períodos da Guerra Civil e da Reconstrução.

Comentário: Grande vencedor do Oscar e um clássico absoluto da história do cinema. Nunca havia assistido, pelo menos não inteiro, e simplesmente me apaixonei pelo filme. É grandioso! Simplesmente louco de pensar que Victor Fleming lançou ele no mesmo ano em que O Mágico de Oz. Clark Gable e Vivien Leigh estão deslumbrantes, as cenas são lindas demais e toda a construção de todos os personagens nos diz muito sobre o ser humano de um modo geral. Seria redundante eu ficar me estendendo demais. Fui perceber que casei com a Scarlett O'Hara só agora, quase tudo do jeito dela me faz lembrar minha esposa e em certos momentos fiquei preocupado (hahahahaha), só sei que só chamo ela agora de Sra. O'Hara. Um filme que precisa ser visto, um dos melhores que vi este ano todo. Sim, o filme tem problemas graves em retratar a escravidão, não dá para passar pano, mas é um filme da década de 30 e deve ser assistido como tal.


terça-feira, 10 de dezembro de 2024

O MUNDO DOS VAMPIROS

Título Original: El Mundo de los Vampiros
Diretor: Alfonso Corona Blake
Ano: 1961
País de Origem: México
Duração: 84min

Sinopse: Um vampiro usa duas irmãs para cumprir seu plano de séculos atrás para se vingar do último membro de uma família que perseguiu os vampiros na Europa.

Comentário: O filme é legalzinho, serve muito bem para passar o tempo e mostrar que também se faziam filmes no México nos padrões de William Castle e Roger Corman. O elenco está bem, apesar do vilão interpretado por Guillermo Murray ser bem canastrão, acaba funcionando. Há cenas em que a direção chama a atenção bem positivamente, principalmente com os homens morcegos, há cenas belíssimas deles se movimentando pelas catacumbas. A relação de tudo com a música é outra coisa bem interessante, ainda mais pelo fato de que eu venho sofrendo há anos ouvindo todo dia a mesma droga de música no trabalho, então pode-se dizer que eu entendo o vampiro do filme, muito bem.


sábado, 30 de novembro de 2024

TUDO VAI MAL

Título Original: Subete ga Kurutteru
Diretor:Seijun Suzuki
Ano: 1960
País de Origem: Japão
Duração: 71min

Sinopse: O jovem rebelde Jiro tem que lidar com um ambiente de crime e prostituição, e o impacto de suas escolhas nas relações pessoais: com a mãe, com o amante dela e com uma garota apaixonada por ele.

Comentário: Uma direção simplesmente perfeita, com um ritmo que vai ficando cada vez mais eletrizante e uma trilha sonora excepcional. Um filme que merece mais destaque, com certeza. Tamio Kawaji interpreta um dos personagens principais mais desprezíveis, mas que representa muito bem o embate geracional de uma geração completamente americanizada de um pós-guerra com a geração que vivenciou a guerra. Talvez haja uma crítica ao ocidentalismo que o Japão vinha sofrendo ao mesmo tempo que uma angústia da geração mais velha que não pode viver a liberdade, como é muito bem colocado. O desfecho, sem spoilers, parece cair em uma certa obsessão dos filmes da época. Todo o elenco está deslumbrante. Vale muito a pena conferir.


quarta-feira, 13 de novembro de 2024

ACONTECEU NAQUELA NOITE

Título Original: It Happened One Night
Diretor: Frank Capra
Ano: 1934
País de Origem: EUA
Duração: 105min

Sinopse: Peter , um jornalista desempregado, encontra Ellie, a filha de um milionário que fugiu do iate de seu pai, pois este não aprova quem ela escolheu como marido. Peter vê a oportunidade de obter uma boa matéria, mas vários fatos criam uma forte aproximação entre eles.

Comentário: Primeiro filme a conseguir o feito de ganhar os cinco prêmios principais na premiação do Oscar. É realmente muito divertido de assistir, os atores estão fantásticos e tudo funciona perfeitamente bem, a química entre os personagens é contagiante. O que é estranho de se pensar já que Clark Gable foi obrigado pela MGM a fazer este filme meio que como um castigo por um caso que teve com a atriz Joan Crawford enquanto estava casado com sua segunda esposa. Claudette Colbert disse que era o pior filme que havia feito e reclamava constantemente nas gravações. A MGM colocou o filme em cinemas de segunda categoria porque não acreditava que fosse ser um sucesso, mas estavam errado. O filme foi o maior sucesso da produtora naquele ano. A história é simples e cheia de clichês, mas é o tipo de filme que faz falta em Hollywood hoje em dia, uma comédia romântica que não trata os telespectadores como idiotas.


domingo, 3 de novembro de 2024

VELAS ESCARLATES

Título Original: Alye Parusa
Diretor: Aleksandr Ptushko
Ano: 1961
País de Origem: Rússia
Duração: 83min

Sinopse: Poética adaptação do conto de fadas de Alexander Grin. Após a morte da esposa, Longren, um marinheiro aposentado, vive em uma pequena aldeia de pescadores com a sua filha, Assol. Até que, a menina conhece um feiticeiro que lhe faz uma previsão: “...Quando um belo navio com velas vermelhas chegar, um nobre príncipe irá levá-la para longe daqui...” Os habitantes locais logo começam a fazer piadas sobre o acontecido, mas a jovem acreditava em milagres e esperou...

Comentário: Bela produção soviética sobre a esperança de que dias melhores virão. A história e seu desenrolar é um pouco inocente demais e torna o filme bastante previsível de tudo o que irá acontecer, porém é muito gostoso de assistir, uma típica história que poderia ser adaptada para um desenho Disney de sucesso, e que funciona para passar o tempo. Há uma crítica muito bem colocada a figura controladora do pai, um burguês cheio da grana que quer controlar a vida de seu filho, mas é quando o filho quebra essa corrente da família burguesa e vai viver em meio aos trabalhadores que sua vida floresce. Achei a forma como isto foi colocado muito bonita. A curta duração requer que tudo aconteça muito rápido, funciona, mas você acaba querendo ver mais sobre os personagens no filme. Tanto a direção de Aleksandr Ptushko quanto o roteiro seguem uma certa cartilha de filmes comerciais da época, nada que prejudique a assistida.


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

M, O VAMPIRO DE DUSSELDORF

Título Original: M
Diretor: Fritz Lang
Ano: 1931
País de Origem: Alemanha
Duração: 109min

Sinopse: Quando a polícia de uma cidade alemã não consegue encontrar um assassino de crianças, outros criminosos decidem ajudar na caçada humana.

Comentário: Finalmente assisti, eu até havia comprado em VHS quando era adolescente, mas foi um daqueles filmes que ficaram na fila por décadas. Intrigante que Fritz Lang tente manipular o espectador para humanizar o assassino, na tentativa de tirar-nos da turba que quer linchá-lo, justo o Sr. Lang que tinha em seu currículo a morte da primeira esposa (Lisa Rosenthal) como uma das mais mal explicadas da história do cinema, a qual muitos biógrafos concordam de que Lang a assassinou em 1921. Típico do assassino dizer que vive um tormento depois que é pego, pois até aquele momento ele me parecia muito bem, seu único tormento me parecia ser o medo de ser descoberto, talvez o mesmo que o diretor tinha. Não fui dissuadido a abandonar a turba, eu teria ido até as últimas consequências contra um assassino de crianças. Tirando o ser humano com valores bem duvidosos que era o diretor, como profissional do cinema era realmente um fenômeno, o filme te prende, tem um ritmo eletrizante e diálogos excelentes. Peter Lorre dá um show e é interessante ver Otto Wernicke interpretando o Inspetor Lohmann, papel que iria reprisar no O Testamento do Dr. Mabuse, filme que Lang faria na sequência deste. Filme obrigatório.


domingo, 6 de outubro de 2024

PRISÃO FEMININA

Título Original: Nedamatgah
Diretor: Kamran Shirdel
Ano: 1965
País de Origem: Irã
Duração: 10min

Sinopse: Prisão Feminina narra a vida das prisioneiras e os problemas que suas famílias enfrentam para sobreviver. As entrevistas com as prisioneiras, assistentes sociais e professores servem como registro documental.
 
Comentário: Curta documental de um Irã pré revolução de 1979 onde é possível ver que nem tudo eram flores naquela época, inclusive há problemas muito similares com o Irã de hoje. As mulheres relegadas a segunda classe por uma sociedade que sempre teve um pé no fundamentalismo religioso. Cena de crianças nas prisões junto com suas mães são assustadoras para nossa sociedade de hoje. O filme é interessante mais como registro histórico, é verdade, mas também serve como diálogo, e muito, para a sociedade que construímos a partir deste passado que nos parece tão remoto. As coisas estão tão diferentes assim? Lógico que há diferenças, mas na espinha dorsal do problema, ainda estamos no mesmo lugar na minha opinião. Impressionante como o diretor consegue ser preciso e cirúrgico em apenas 10 minutos.


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

A PECADORA

Título Original: Seven Sinners
Diretor: Tay Garnett
Ano: 1940
País de Origem: EUA
Duração: 86min

Sinopse: Banida de vários protetorados dos EUA no Pacífico, uma artista de salão usa seus encantos de mulher fatal para cortejar políticos, militares, gângsteres, ralé, juízes e um médico de navio para atingir seus objetivos.

Comentário: Sempre quis ver e fui deixando para depois. Filmaço! Marlene Dietrich é a grande estrela aqui, Wayne é um mero coadjuvante. Um roteiro que dá alfinetadas no patriarcado a todo momento em pleno início da década de 40. Vemos aqui tudo o que podia ter sido melhor trabalhado em Gilda com Rita Rayworth (e ter visto esses filmes tão próximos um do outro foi uma feliz coincidência). Não há uma desconstrução da personagem de Dietrich em prol dos bons costumes, ela não muda para se adequar ao amor masculino de Wayne, e o mais revolucionário é que ele não quer que ela mude. O nível de aceitação dos padrões da personagem pelo público e pela história que está sendo contada é avassalador. O elenco de apoio ajuda muito a fazer tudo funcionar e ver Dietrich cantar é sempre um colírio para os olhos (assim como Rita em Gilda). Um dos grandes filmes da década e imensamente subestimado. Direção de Garnett é competente, mas é Dietrich que brilha imensamente aqui.


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

GILDA

Título Original: Gilda
Diretor: Charles Vidor
Ano: 1946
País de Origem: EUA
Duração: 110min

Sinopse: Um apostador contratado para trabalhar em um cassino de Buenos Aires descobre que a nova esposa de seu chefe é seu antigo amor.
 
Comentário: Indicado ao Grande Prêmio do Festival de Cannes (ainda não existia a Palma de Ouro nessa época). O filme é recheado de um machismo misógino que faz com que o filme não tenha envelhecido tão bem, portanto é preciso deixar isto de lado para aproveitar a sessão. Rita Hayworth está deslumbrante (falar mais sobre isso seria redundante), cativa e merecia uma indicação ao Oscar pela entrega ao papel, mas naquela época as indicações eram mais para papéis melodramáticos. Tive vários gatilhos da minha vida que não vêm ao caso, mas já cheguei a ter uma planta que cuidei por mais de vinte anos com o nome de Gilda por conta deste filme, enfim... demoraria demais para explicar aqui (hahahaha). Glenn Ford está ótimo, e a direção de Vidor é perfeita. Um filme, que mesmo com os defeitos para os padrões de hoje ainda é muito bom de se assistir, a nota continua alta.


quarta-feira, 4 de setembro de 2024

GENTE DO PÓ

Título Original: Gente del Po
Diretor: Michelangelo Antonioni
Ano: 1947
País de Origem: Itália
Duração: 11min

Sinopse: Primeiro documentário de Michelangelo Antonioni, onde ele já revela seu estilo consistente em retratar a paisagem interior do homem em sua relação com a paisagem que o circunda. Aqui, o cineasta documentou a vida dos barqueiros e dos ribeirinhos do vale do rio Pó.

Comentário: Foi aqui que Antonioni se apresentou para o mundo como diretor, nesse curta documental de onze minutos. Foi filmado em 1943, mas devido a II Guerra Mundial em curso, foi editado somente em 1947, ano de seu lançamento. A música de Mario Labroca dispensa qualquer texto adicionado, as imagens são como poesia e a música combina muito bem com ela. Apesar do texto servir para contextualizar um pouco as coisas, achei que não era nem um pouco necessária. As imagens são lindíssimas, Antonioni já mostra aqui seu talento e todo o seu olhar técnico do que se tornaria dali em diante. Não há uma história, uma narrativa, mas mesmo assim cria-se uma atmosfera nostálgica e histórica.


segunda-feira, 19 de agosto de 2024

O SAMURAI

Título Original: Le Samouraï
Diretor: Jean-Pierre Melville
Ano: 1967
País de Origem: França
Duração: 105min

Sinopse: O matador Jeff Costello é um perfeccionista: ele sempre planeja com extremo cuidado todos os seus assassinatos para nunca ser pego. Uma noite, porém, ele finalmente é surpreendido por uma testemunha, e aos poucos, a partir daí, ele vai sendo cada vez mais pressionado.

Comentário: Devastado com a morte do Alain Delon, cheguei do trabalho e assisti na madrugada este clássico que ainda não havia assistido. É um baita filme, a história é envolvente, mas é a trilha sonora com a direção, emulando o perfeccionismo do próprio personagem interpretado por Delon, que faz o filme ter a força que tem. Cada cena é um quadro a ser contemplado, cada gesto do Delon é digna de atenção. O final, não darei spoilers, me deixou pensativo em vários pontos que ligam ao título e ao destino da personagem de Cathy Rosier, que está ótima interpretando a pianista. Um típico filme que mistura o clássico noir americano, com os filmes policiais da época. A interpretação mais mecânica, sem muitos traços emotivos, de Delon dá ao personagem uma profundidade que dá para ficar pensando por dias a fio. Fica aqui minha homenagem ao Homem Mais Bonito do Mundo que nos deixou ontem, mas que não era só isso, era um grande ator e um ser humano cheio de complexidades que fizeram dele ser quem era: um ícone do cinema.


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A MARCA DA MALDADE

Título Original: Touch of Evil
Diretor: Orson Welles
Ano: 1958
País de Origem: EUA
Duração: 110min

Sinopse: Ao investigar um assassinato, Ramon Miguel Vargas (Charlton Heston), um chefe de polícia mexicano em lua-de-mel em uma pequena cidade da fronteira dos Estados Unidos com o México, entra em choque com Hank Quinlan (Orson Welles), um corrupto detetive americano que utiliza qualquer meio para deter o poder.

Comentário: Que Welles era um gênio, isso é indiscutível, sempre protelei ver este filme da mesma maneira que protelo ler todos os livros do Hemingway, porque daí não vai sobrar nenhum. Assisti a versão restaurada editada conforme especificações do diretor, nunca vi a anterior. É um filme noir básico em muitos aspectos e tenho certeza que Welles sabia disso, é quase como se ele fizesse uma homenagem ao gênero (Marlene Dietrich e seus momentos acho que condizem com minha linha de pensamento), é como se Welles pegasse todo o caldo do noir da década de 30 e subvertesse em algo seu, em algo novo que parecesse o mesmo em alguns aspectos. Janet Leigh, mesmo subaproveitada brilha, mas é Welles que desafia as leis das artes cênicas (se houvessem tais leis) em sua atuação impressionante de Hank Quinlan, com todo o respeito ao David Niven que ganhou o Oscar naquele ano por Vidas Separadas, mas que atuação monstro do Welles aqui. Até o Heston convence um pouco como mexicano.


domingo, 4 de agosto de 2024

O CARROCEIRO

Título Original: Borom Sarret
Diretor: Ousmane Sembene
Ano: 1959
País de Origem: Senegal
Duração: 20min

Sinopse: Em O carroceiro, do diretor senegalês Ousmane Sembène, temos a história de um homem pobre que tenta ganhar a vida como carroceiro em Dakar.
 
Comentário: É o começo do cinema africano e um marco que reflete as diferenças de classes sociais tão evidentes em qualquer país que sofreu com o colonialismo europeu. Nem um pouco diferente de países latinoamericanos, as cenas no bairro rico da cidade em pleno final da década de 50 mostra uma África que muitos europeus ou estadunidenses não imaginam que existisse, já que insistem em acreditar que é tudo selva e pouco desenvolvido nos países do sul global. A história é muito simples, mas funciona, escancara esse reflexo indigesto da pobreza que só piora quase setenta anos depois. Impressionante como esse tipo de denúncia já existia desde então e nada foi feito, e tudo piorou, em um mundo onde a concentração de renda tornou esse tipo de vida que vemos no filme ainda mais comum por todo o mundo. Crises humanitárias e genocídios por toda a parte. Até quando?


sábado, 3 de agosto de 2024

OLHO POR OLHO

Título Original: Olho Por Olho
Diretor: Andrea Tonacci
Ano: 1966
País de Origem: Brasil
Duração: 20min

Sinopse: Grupo de amigos de classe média passeiam de carro por São Paulo enquanto a câmera os acompanha. Vão pegando outras pessoas pelo caminho afim de por em prática sua alienação e agressividade moral.

Comentário: Maravilhoso trabalho de estreia de Tonnaci, ícone do cinema marginal. Todo o desenrolar é maravilhoso, com forte influência da nouvelle vague francesa, mas com uma identidade própria. As imagens da cidade de São Paulo são um brinde à parte. É possível até conferir a icônica loja da Varig na Rua dos Andradas e Borges de Medeiros em um momento. A trilha sonora é outra coisa muito boa, que ajuda no ritmo e a cravar a época dessa juventude entre o rock 'n roll e a bossa nova. O próprio desenrolar e o desfecho mostra de uma forma crua a sociedade que criamos e que está aí até hoje, uma espécie de protofascismo. O embrião já estava lá, mas é ainda anterior a 1966.


domingo, 28 de julho de 2024

QUEM MATOU LEDA?

Título Original: À Double Tour
Diretor: Claude Chabrol
Ano: 1959
País de Origem: França
Duração: 94min

Sinopse: O negociante Henri Marcoux tem um caso amoroso com uma bela e jovem vizinha, bem debaixo do nariz de sua esposa. Sua linda filha está apaixonada por um húngaro boêmio, enquanto o filho Voyeur começa a ter liberdades com a amante do pai. Com o amadurecimento das paixões na família, deslumbra-se uma tragédia.
 
Comentário: Indicado ao Leão de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Atriz para Madeleine Robinson no Festival de Veneza. Eu confesso que esperava mais, mas no geral é um filme muito bom pelo que há nas entrelinhas. Vejo pessoas dizendo que o filme é "white people problems", mas é exatamente isso que Chabrol usa como critica a classe burguesa, há várias camadas para serem analisadas a respeito. O elenco todo está muito bem, mas é a minha crush Bernadette Lafont que rouba todas as cenas em que aparece na minha opinião. Gostei do ritmo, mas achei estranho que o assassinato de Leda fique tão evidente no poster do filme, por exemplo, já que não é algo que aconteça no começo do filme (O título do Brasil então é mais descarado ainda), mas não estraga a experiência.


segunda-feira, 17 de junho de 2024

GESTAPO

Título Original: Night Train to Munich
Diretor: Carol Reed
Ano: 1940
País de Origem: Inglaterra
Duração: 95min

Sinopse: Depois que a Alemanha invade a Tchecoslováquia, os serviços de inteligência alemães e britânicos tentam capturar o cientista tcheco Dr. Axel Bomasch (James Harcourt), inventor de um novo tipo de blindagem.
 
Comentário: Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original. Filme lançado durante a guerra que já mostra vários elementos que não estavam só na ficção: um campo de concentração de prisioneiros e a guerra fria entre as potências por cientistas e tecnologia, tudo isso em um clima no melhor estilo de livros do Graham Greene ou John le Carré. O clima do filme, mesmo com situações forçadas em vários momentos, funciona perfeitamente bem, te envolve, cria apreensões e situações cômicas dignas de um filme do Billy Wilder. Achei que faltou mais enredo para a personagem da Margaret Lockwood, que só serve de muleta como figura feminina para Rex Harrison (que está ótimo), mas eram os anos 40, nada de novo no front. A cena final é incrível e icônica. Um filme que merece ser revisto nos dias atuais, e pensar que saiu no começo da guerra, imagina vendo em um cinema na época o impacto que teve.


terça-feira, 4 de junho de 2024

CHARLOTTE E SEU BIFE

Título Original: Présentation ou Charlotte et Son Steak
Diretor: Eric Rohmer
Ano: 1960
País de Origem: França
Duração: 9min

Sinopse: Charlotte está de partida. Antes de pegar o trem, vai ao seu apartamento para uma refeição ligeira - um bife. Walter a acompanha; o curto espaço de tempo em que Charlotte prepara seu bife representa para ele a oportunidade de acertar as coisas com ela.

Comentário: O curta trás todo o estilo de Rohmer, tem sua impressão digital. Acredito que essa história de que a filmagem foi recebida por um estranho e depois fizeram a montagem tenha sido uma piada interna entre ele e o Godard para se criar um mito em torno da obra, mas que não faz muito sentido já que o próprio Godard aparece na filmagem. É bem legal e bem simples também, funciona por conta disso, como tudo do Rohmer, é uma cena cotidiana. Engraçado é ver que o bife simplesmente some quase por completo do prato de Charlotte entre um take e outro.


sábado, 1 de junho de 2024

OS FUZIS

Título Original: Os Fuzis
Diretor: Ruy Guerra
Ano: 1964
País de Origem: Brasil
Duração: 84min

Sinopse: Um grupo de soldados é enviado ao nordeste do Brasil para impedir que cidadãos pobres saqueiem armazéns por causa da fome.

Comentário: Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do Prêmio Especial no Festival de Berlim. Que filmaço! Nelson Xavier com mó pinta de galã e mandando muito bem, e Átila Iório roubando as cenas como o grande herói do filme. Ruy Guerra conseguiu fazer uma obra prima aqui, infelizmente a captação do som nessa época no cinema nacional era muito ruim, mesmo tendo assistido a cópia restaurada ainda tem momentos ruins de entender o diálogo. Acho que o filme podia explorar muito mais coisas, mas devido as tensões da época em que foi lançado entendo a necessidade de ser curto e direto. Merece ser visto e revisto, assisti logo depois da morte de Paulo César Peréio, um dos grandes atores brasileiros e que aqui fazia sua estreia de maneira brilhante e muito competente e ainda de quebra tem uma das melhores cenas do filme. Peréio vive! Infelizmente a fome no sertão também. Até quando?


segunda-feira, 13 de maio de 2024

10 ANOS DE ORÁCULO ALCOÓLICO


 

Meio que para não passar em branco, brindemos, hoje faz 10 anos que eu fiz o primeiro post no meu blog de cinema Oráculo Alcoólico.


Eu sempre amei o cinema, considero ele uma fonte importantíssima de literatura (mas isso é um assunto para outro texto), desde pequeno fui fascinado, lembro a primeira vez que entrei em uma sala de cinema para assistir A Ratinha Valente, na saída vi o pôster de Superman III e voltamos para assistir este também (portanto lembro também a segunda vez em que estive em uma sala de cinema). Um dos primeiros filmes que assisti na minha vida (na TV) foi A Fuga do Planeta dos Macacos de 1971, lembro que fiquei chocado aos meus 3 anos do porque os humanos estavam tratando os macacos daquele jeito e meu pai me respondeu ao ser questionado: “a humanidade é ruim”. Meu pai não teria como saber como essa frase teria um efeito ressoando no tempo através de mim até hoje (isto também é assunto para outro texto ou sessões de terapia).


Em 1997 muita coisa mudou quando assisti ao Estrada Perdida de David Lynch no cinema, comecei a procurar por filmes fora do padrão e me voltei aos clássicos. Filmes como Cidadão Kane, O Terceiro Homem, Levada da Breca ou Rastros de Ódio marcaram o final do meu período de adolescente e o começo da minha fase adulta.


Então chegou a era do DVD.


Comprava muitos títulos em promoção nas Lojas Americanas, tinha uma coleção imensa de DVDs, e de vez em quando gastava um pouco mais em algumas raridades que chegavam a custar até 5 vezes mais. Foi no final de 2013 que percebi que estava preso em um “catálogo” de DVDs em promoção, perdia muito tempo assistindo filmes ruins. Decidi mergulhar no torrent, buscar filmes clássicos que custavam muito caro para comprar e parar de comprar DVDs blockbusters. Traçando um paralelo eu vejo que minha situação naquela época era muito semelhante com quem está preso em catálogos de streamings hoje em dia, que possui uma vasta quantidade de porcarias para assistir.


Comecei a assistir tudo que eu achava dos anos 60, de tudo que era país possível. Em maio de 2014 eu percebi que já havia assistido uma boa quantidade de filmes e resolvi catalogar esses filmes, mas como fazer isso? Foi então que decidi abrir um blog para este intuito, mas somente escrever uma ficha técnica e minhas impressões, da maneira mais simples possível, sobre o filme. E assim no dia 13 de maio de 2014 eu publicava minha primeira resenha sobre o maravilhoso filme Rocco e Seus Irmãos do diretor Luchino Visconti. O nome do blog eu tirei de uma cena do La Dolce Vita de Fellini. De lá para cá foram mais de 500 resenhas de filmes clássicos de 30 países diferentes.


Quase cinco anos depois decidi abrir um outro blog para filmes mais atuais (que abrangem filmes de 1970 para frente), o Filmestrangeiros, porém este último com quase nenhuma resenha de filmes americanos. Juntando os dois blogs já são quase mil filmes resenhados. Ambos partilham do mesmo Instagram @filmestrangeiros.


E é isso. 10 anos, não de sucesso, nem de likes ou compartilhamentos. 10 anos de fazendo o que gosto. Um brinde a isso.

sábado, 11 de maio de 2024

DIAS DE IRA

Título Original: Vredens Dag
Diretor: Carl Theodor Dreyer
Ano: 1943
País de Origem: Dinamarca
Duração: 37min

Sinopse: Em uma pequena aldeia, uma jovem madrasta se apaixona pelo filho de seu marido pastor, em meio à violenta caça às bruxas do século XVII

Comentário: Que filmaço! Fui assistir sem esperar muito e foi uma bela surpresa. Brilhante é pouco para rotular toda a parte inicial com a caça a Herlufs Marte, magistralmente interpretada por Anna Svierkier que estreou no teatro em 1904, mas nunca havia despontado como atriz de sucesso. Imaginem a perda incalculável para as artes cênicas, porque a presença de cena em todos os momentos em que ela aparece é uma força da natureza. No restante o filme consegue colocar o dedo na ferida em todo o bom costume conservador cristão da época, cria um debate sobre muitas coisas que estão em várias camadas da sociedade com diferentes interpretações dependendo dos personagens. Uma verdadeira aula antropológica histórica. A parte técnica é outro deleite, cada tomada é uma obra de arte, merece ser lembrado no panteão dos grandes clássicos.


sexta-feira, 3 de maio de 2024

UMA HISTÓRIA D'ÁGUA

Título Original: Une Histoire A'Eau
Diretores: Jean-Luc Godard & François Truffaut
Ano: 1961
País de Origem: França
Duração: 11min

Sinopse: Uma jovem narra sua aventura de tentar ir a Paris em meio a uma tempestade, que pouco a pouco vai inundando vilas e caminhos possíveis.

Comentário: A verdade é que achei bem meia boca, tentei gostar, mas não rolou. Truffaut é um dos meus diretores preferidos e Godard é sempre um gigante, mas aqui a união dos dois não funcionou para mim. A verborragia incessante é chata, meio pedante, é um problema que tenho com algumas obras do Godard, ele parece ter momentos que quer se mostrar demais como um intelectual erudito com ideias geniais e que só funcionam na cabeça dele. É quando o diretor deixa essas coisas de lado e pisa na realidade mais acessíveis a nós, meros mortais, que ele funciona. As cenas são lindas, a parte técnica do filme é perfeita. Quando a verborragia cessa e os personagens finalmente vão conversar é meio vergonha alheia, um diálogo bobo. Só vale a pena para quem for fã mesmo. Talvez funcione melhor no mudo.


sábado, 27 de abril de 2024

O PEQUENO SOLDADO

Título Original: Le Petit Soldat
Diretor: Jean-Luc Godard
Ano: 1963
País de Origem: França
Duração: 88min

Sinopse: Durante a guerra da Argélia por independência da França, um jovem francês que pertence a um grupo terrorista de direita e uma jovem que pertence a um grupo terrorista de esquerda se encontram e se apaixonam. A situação se complica quando o grupo terrorista suspeita que o rapaz é um agente duplo.

Comentário: O filme é tão intenso no que denunciava na época que foi censurado pela França só sendo lançado um par de anos depois. O filme é incrível, o personagem é grotesco em vários sentidos: egoísta, babaca, narcisista, chato (enfim, todas as qualidades básicas de um filiado de um partido de direita). Anna Karina está deslumbrante, cativa do momento que aparece ao último minuto em cena, fácil perder uma aposta em não se apaixonar. O último diálogo no apartamento dela entre os protagonistas é maravilhoso, mostra bem o que ambos defendem e de que lado estão (ele está do lado dele mesmo). O filme é intrincado, mas é genial. 


segunda-feira, 1 de abril de 2024

3 LP'S AMERICANOS

Título Original: 3 Amerikanische LP's
Diretor: Wim Wenders
Ano: 1969
País de Origem: Alemanha
Duração: 13min

Sinopse:Existem certas músicas que evocam imagens que são mais visuais do que a maioria dos filmes hoje em dia. Aqui, Wenders combina cenas filmadas na Alemanha dentro de um carro com música que inspira paisagens americanas. Enquanto isso, Wenders e Peter Handke discutem música americana.
 
Comentário: Apesar do meu desprezo e nojo por Peter Handke, meu amor pelo Wim Wenders é maior e fui assistir este curta metragem que não conhecia. Interessante como a obra do diretor tem uma ligação tão forte com a música. Fiz um deep listening nos álbuns depois de ver o filme. Adoro o álbum Astral Weeks do Van Morrison, dos três é de longe o que mais escutei na vida, mas achei estranho escolherem um músico irlandês para falar de música americana, não considero o Transa do Caetano Veloso um álbum britânico assim como não considero o Heroes do Bowie um álbum alemão, pensando nessa pegada mais folk, o próprio Bob Dylan já tinha lançado o Nashvile Skyline e encaixava melhor já que o assunto era álbuns americanos. Creedence Clearwater Revival era uma banda que ouvia bastante na época da faculdade, rock bem clássico, não me lembro de ter ouvido este álbum em específico, eu tinha uma coletânea e ouvi mais o Cosmo's Factory de 1970. Cristo Redentor, o álbum de estreia do Harvey Mandel era completamente desconhecido para mim, gostei bastante e me remeteu bastante a obra de Ry Cooder, tão amalgamado na própria obra de Wenders. Vale a assistida.


quinta-feira, 28 de março de 2024

ERA UMA VEZ UM PAI

Título Original: Chichi Ariki
Diretor: Yasujirô Ozu
Ano: 1942
País de Origem: Japão
Duração: 87min

Sinopse: Shuhei Horikawa, professor viúvo, luta para criar sozinho seu filho Ryohei sozinho, sem dinheiro nem perspectivas de futuro espera que seu filho conquiste uma vida melhor que a dele.

Comentário: Que baita filme do Ozu, fazia tanto tempo que não assistia algo do diretor. O filme emociona demais em seu desfecho aumentando em muito a nota dele. Impressionante como o diretor consegue dinamismo em seus filmes sem movimentar a câmera nenhuma vez. Os atores são uma simpatia à parte. Interessante notar que o filme foi feito na época em que o Japão estava lutando durante a 2ª Guerra Mundial, e é possível notar pelo discurso do pai aquilo que era tentado passar para a população como "Deem o seu melhor que tudo vai dar certo" ou "Estamos em dificuldade agora, mas as coisas irão melhorar no futuro", muitos detalhes do filme remetem a guerra em curso nas entrelinhas. O respeito cultural que eles tem pela figura do professor era algo que o mundo ocidental deveria ter copiado há muito tempo.