segunda-feira, 19 de agosto de 2024

O SAMURAI

Título Original: Le Samouraï
Diretor: Jean-Pierre Melville
Ano: 1967
País de Origem: França
Duração: 105min

Sinopse: O matador Jeff Costello é um perfeccionista: ele sempre planeja com extremo cuidado todos os seus assassinatos para nunca ser pego. Uma noite, porém, ele finalmente é surpreendido por uma testemunha, e aos poucos, a partir daí, ele vai sendo cada vez mais pressionado.

Comentário: Devastado com a morte do Alain Delon, cheguei do trabalho e assisti na madrugada este clássico que ainda não havia assistido. É um baita filme, a história é envolvente, mas é a trilha sonora com a direção, emulando o perfeccionismo do próprio personagem interpretado por Delon, que faz o filme ter a força que tem. Cada cena é um quadro a ser contemplado, cada gesto do Delon é digna de atenção. O final, não darei spoilers, me deixou pensativo em vários pontos que ligam ao título e ao destino da personagem de Cathy Rosier, que está ótima interpretando a pianista. Um típico filme que mistura o clássico noir americano, com os filmes policiais da época. A interpretação mais mecânica, sem muitos traços emotivos, de Delon dá ao personagem uma profundidade que dá para ficar pensando por dias a fio. Fica aqui minha homenagem ao Homem Mais Bonito do Mundo que nos deixou ontem, mas que não era só isso, era um grande ator e um ser humano cheio de complexidades que fizeram dele ser quem era: um ícone do cinema.


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A MARCA DA MALDADE

Título Original: Touch of Evil
Diretor: Orson Welles
Ano: 1958
País de Origem: EUA
Duração: 110min

Sinopse: Ao investigar um assassinato, Ramon Miguel Vargas (Charlton Heston), um chefe de polícia mexicano em lua-de-mel em uma pequena cidade da fronteira dos Estados Unidos com o México, entra em choque com Hank Quinlan (Orson Welles), um corrupto detetive americano que utiliza qualquer meio para deter o poder.

Comentário: Que Welles era um gênio, isso é indiscutível, sempre protelei ver este filme da mesma maneira que protelo ler todos os livros do Hemingway, porque daí não vai sobrar nenhum. Assisti a versão restaurada editada conforme especificações do diretor, nunca vi a anterior. É um filme noir básico em muitos aspectos e tenho certeza que Welles sabia disso, é quase como se ele fizesse uma homenagem ao gênero (Marlene Dietrich e seus momentos acho que condizem com minha linha de pensamento), é como se Welles pegasse todo o caldo do noir da década de 30 e subvertesse em algo seu, em algo novo que parecesse o mesmo em alguns aspectos. Janet Leigh, mesmo subaproveitada brilha, mas é Welles que desafia as leis das artes cênicas (se houvessem tais leis) em sua atuação impressionante de Hank Quinlan, com todo o respeito ao David Niven que ganhou o Oscar naquele ano por Vidas Separadas, mas que atuação monstro do Welles aqui. Até o Heston convence um pouco como mexicano.


domingo, 4 de agosto de 2024

O CARROCEIRO

Título Original: Borom Sarret
Diretor: Ousmane Sembene
Ano: 1959
País de Origem: Senegal
Duração: 20min

Sinopse: Em O carroceiro, do diretor senegalês Ousmane Sembène, temos a história de um homem pobre que tenta ganhar a vida como carroceiro em Dakar.
 
Comentário: É o começo do cinema africano e um marco que reflete as diferenças de classes sociais tão evidentes em qualquer país que sofreu com o colonialismo europeu. Nem um pouco diferente de países latinoamericanos, as cenas no bairro rico da cidade em pleno final da década de 50 mostra uma África que muitos europeus ou estadunidenses não imaginam que existisse, já que insistem em acreditar que é tudo selva e pouco desenvolvido nos países do sul global. A história é muito simples, mas funciona, escancara esse reflexo indigesto da pobreza que só piora quase setenta anos depois. Impressionante como esse tipo de denúncia já existia desde então e nada foi feito, e tudo piorou, em um mundo onde a concentração de renda tornou esse tipo de vida que vemos no filme ainda mais comum por todo o mundo. Crises humanitárias e genocídios por toda a parte. Até quando?


sábado, 3 de agosto de 2024

OLHO POR OLHO

Título Original: Olho Por Olho
Diretor: Andrea Tonacci
Ano: 1966
País de Origem: Brasil
Duração: 20min

Sinopse: Grupo de amigos de classe média passeiam de carro por São Paulo enquanto a câmera os acompanha. Vão pegando outras pessoas pelo caminho afim de por em prática sua alienação e agressividade moral.

Comentário: Maravilhoso trabalho de estreia de Tonnaci, ícone do cinema marginal. Todo o desenrolar é maravilhoso, com forte influência da nouvelle vague francesa, mas com uma identidade própria. As imagens da cidade de São Paulo são um brinde à parte. É possível até conferir a icônica loja da Varig na Rua dos Andradas e Borges de Medeiros em um momento. A trilha sonora é outra coisa muito boa, que ajuda no ritmo e a cravar a época dessa juventude entre o rock 'n roll e a bossa nova. O próprio desenrolar e o desfecho mostra de uma forma crua a sociedade que criamos e que está aí até hoje, uma espécie de protofascismo. O embrião já estava lá, mas é ainda anterior a 1966.